quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Passe-Livre Já!

Nesta semana, centenas de pessoas reunidas na luta pelo passe-livre e na defesa de um TRANSPORTE PÚBLICO DE VERDADE (gratuito, de qualidade e fora da iniciativa privada), irão se manifestar por todo o Brasil.

Serão panfletagens, atos de rua, "catracassos" (ato de pular a catraca), intervenções artísticas, debates públicos entre tantas outras ações que pautarão nas ruas do Brasil a necessidade de um outro modelo de transporte, de uma outra cidade, de uma outra maneira de se organizar e lutar por seus direitos.

Sem a plena efetivação desse direito, milhares de pessoas não tem acesso à escola, ao lazer e à saúde pública por simplesmente não terem dinheiro para pagar a tarifa.

"A cidade só existe para quem consegue se movimentar por ela".

VITÓRIA! Trabalhadores da Flaskô e Apoiadores conseguem religar a energia elétrica!

A reunião convocada pela Superintendência do Ministério do Trabalho, a pedido dos trabalhadores da Flaskô, terminou com o compromisso da CPFL em religar a energia elétrica nesta sexta-feira (24/10). O corte havia sido feito há uma semana, sem aviso-prévio e rompendo as negociações entre as partes, que estava se desenvolvendo com a intermediação da própria Superintendência. Mas, após a pressão dos trabalhadores e apoiadores da fábrica ocupada Flaskô - inclusive com realização de ato público em frente à CPFL, e com a campanha de moções de repúdio contra o ocorrido - a companhia foi obrigada a voltar atrás e, além de restabelecer o fornecimento de energia elétrica, retomou as negociações exatamente de onde elas pararam.

mais informações click aqui!

domingo, 19 de outubro de 2008

Movimentos sociais fazem protestos em 12 estados por soberania alimentar

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A Via Campesina e a Assembléia Popular fizeram protestos em doze estados para denunciar a responsabilidade do agronegócio e das empresas transnacionais da agricultura pela elevação dos preços dos alimentos e em defesa da soberania alimentar e da pequena agricultura, nesta quinta-feira (16/10). Foram realizadas atividades e protestos no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Mato Grosso, Espírito Santo, Paraíba e Minas Gerais.

No Brasil, a cesta básica exige 52,8% do salário mínimo, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Com o encarecimento do preço, os alimentos vão consumir uma fatia ainda maior da renda da população. “Os produtos agrícolas passaram a ser commodities, que agora são vendidas nas bolsas de valores em ações. Grandes especuladores controlam 60% do trigo, por exemplo. A alta do preço dos produtos agrícolas tem origem na especulação financeira. Esses produtos são vendidos a seis ou sete vezes mais caros nas bolsas, sem em muitos casos existirem”, afirma Egidio Brunetto, da coordenação da Via Campesina.

Os movimentos sociais propõem como alternativa ao aumento do preço dos alimentos a aplicação, pelo Estado, de políticas públicas para infra-estrutura e assistência técnica em assentamentos e pequenas propriedades, que produzem 70% da cesta básica brasileira. Dessa forma, o país vai garantir sua soberania alimentar, que é a capacidade de cada país, região e municípios de produzir a quantidade necessária de alimentos para a população. Atualmente, o Brasil precisa importar produtos agrícolas e suas diversas regiões precisam fazer trocas entre si..

PROTESTOS

No Rio Grande do Sul, 10 mil trabalhadores urbanos e rurais fizeram protesto em frente ao Supermercado Nacional, da rede Wall-Mart, a maior rede varejista do mundo, em Porto Alegre. Os movimentos sociais e sindicais denunciam que grandes transnacionais como a Wall-Mart, Bunge e Cargill são responsáveis pelo aumento dos preços dos alimentos, através da especulação financeira.

À tarde, Porto Alegre se tornou cenário de violência, com bombas de gás lacrimogênio, cassetetes e balas de borracha contra manifestantes. A governadora Yeda Crusius tentou impedir que os dez mil manifestantes da Jornada de lutas por Soberania Alimentar realizassem um ato na Praça da Matriz, em frente ao Palácio Piratini.

Após marcharem desde o Parque da Redenção, no centro da cidade, os manifestantes foram impedidos de entrarem na praça que reúne os três poderes gaúchos. Dezessetes pessoas ficaram feridas na ação da Brigada Militar, novamente coordenada pessoalmente pelo Comandante Paulo Mendes. Apesar da ação policial, movimentos sociais e sindicais conseguiram entrar na praça, após uma negociação entre parlamentares e o Governo do Estado.

No Paraná, cerca de 1.000 camponesas da Via Campesina, Assembléia Popular e Movimento Popular de Mulheres de Sarandi liberaram, pela manhã, cancelas de seis praças de pedágios. Os pedágios são um dos principais entraves para a pequena agricultura, que encarecem a distribuição dos produtos agrícolas, prejudicando os produtores no campo e os consumidores nas cidades. As cancelas foram liberadas nas praças de São Luiz do Purunã, Cascavel, Imbaú, Ortigueira, Marialva e São Miguel do Iguaçu.

Em São Paulo, aconteceram atos em quatro municípios, em defesa da Reforma Agrária e da pequena agricultura. Na capital do estado, cerca de 600 pessoas da Assembléia Popular, MST e MTST fizeram uma marcha na região da Avenida Paulista. Os manifestantes fizeram um ato no estacionamento do supermercado Extra, na Brigadeiro Luís Antônio, para denunciar que grandes empresas estão controlando a comercialização e o preço dos alimentos. No ato, o MST distribuiu à população arroz produzido em um assentamento da Reforma Agrária. “Nós produzimos alimentos para a população, enquanto as grandes empresas da agricultura e supermercados produzem lucro, pobreza e fome”, afirma José Batista, da coordenação do MST.

Em Itapeva, cerca de 150 pessoas ocuparam a sede do Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) para exigir que seja acelerado o processo de assentamento das famílias da região, além de estrutura para os acampamentos e uma audiência com o Governo do Estado.

Em Presidente Prudente, na região do Pontal do Paranapanema, 500 pessoas se manifestaram no pátio do Itesp em busca da regularização das famílias que estão vivendo à beira da estrada, além de mais acesso aos créditos para a Reforma Agrária. Na região do Vale do Paraíba, em São José dos Campos, 200 pessoas ocuparam pela manhã um supermercado para protestar contra a crise dos alimentos. Depois, foi realizada uma marcha em direção ao centro da cidade para realização de um ato.

Na região de Campinas, interior do estado, 200 manifestantes fizeram protesto contra a crise alimentar e pela defesa dos diretos. Também foi realizada uma distribuição de alimentos simbólica, em forma de protesto.

Em Pernambuco, camponeses e camponesas da Via Campesina realizaram em três regiões atividades em defesa da Soberania Alimentar. No Recife, a Via Campesina e a Marcha Mundial das Mulheres fizeram panfletagem e distribuição de alimentos no Bairro de Água Fria. As organizações realizaram ato em frente ao McDonald's, da Rua 7 de Setembro. Em Carpina, a Via Campesina realiza uma feira agroecológica e, na região do Sertão do São Francisco, aconteceram debates sobre soberania alimentar em universidades e escolas.

No Rio de Janeiro, mulheres do campo e da cidade fizeram marcha na capital para denunciar a responsabilidade do agronegócio na elevação do preço dos alimentos. O ponto alto da manifestação aconteceu em frente ao supermercado Sendas da Rua do Riachuelo. Os manifestantes pararam em frente à empresa e estenderam um longo tapete-painel com frases de denúncia em relação à alta dos preços dos alimentos. À tarde, mulheres da Via Campesina fizeram manifestação em Belford Roxo, marchando em direção à Bayer, umas das maiores empresas do agronegócio, com a produção de insumos agrícolas.

"A Bayer é uma transnacional que domina grande parte das sementes e agrotóxicos comercializados no país. É combatendo a produção de veneno que nós fazemos essa manifestação como um contraponto. A Bayer é uma transnacional que monopoliza a produção de sementes, usa os venenosos agrotóxicos, rouba nossas riquezas e explora os trabalhadores brasileiros", conta Eliana Souza, direção estadual do MST.

No Ceará, 350 manifestantes partiram pela manhã do Mercado São Sebastião, um local simbólico de comercialização de produtos da agricultura camponesa em Fortaleza, e seguiram em marcha ao supermercado Bom Preço, da rede Wal-Mart.

No Rio Grande do Norte, cerca de 300 pessoas marcharam até o Idema (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente) para reivindicar a desocupação da empresa RC Química da área de preservação ambiental no assentamento São Sebastião. Logo depois, cerca de 300 pessoas marcharam até dois supermercados Hiper, onde foram realizados atos pela soberania alimentar.

“Os atos nos supermercados foram bem positivos. O envolvimento de diversos movimentos demonstra que o problema da soberania alimentar não é só do campo. Estamos construindo boas lutas com os companheiros da cidade e dos sindicatos”, conclui Cícero Araújo, da coordenação do MST no estado. As mobilizações em torno do Dia Internacional da Luta pela Soberania Alimentar no Rio Grande do Norte tiveram início na terça-feira, quando cerca de 200 pessoas ocuparam a superintendência do Incra, em Natal.

No Maranhão, cerca de 500 trabalhadores rurais estão acampados na Praça de Fátima, no centro de Imperatriz, em defesa da soberania alimentar e da Reforma Agrária. “Só a Reforma Agrária pode garantir a soberania alimentar do povo”, afirma Noé Rodrigues, da coordenação da Via Campesina.

Os manifestantes fizeram marcha pelo centro da cidade até o Incra para cobrar o assentamento das 2800 famílias acampadas e investimento público para produção agrícola e obras de infra-estrutura nos assentamentos. No começo da noite, acontece um ato público com a sociedade civil.

No Espírito Santo, uma equipe do MST realizou audiência com o Incra para discutir o andamento do processo do assentamento Otaviano de Carvalho, com o apoio de diversos setores da sociedade. Desde o começo da semana, acontecem seminários sobre a crise dos alimentos e a questão dos transportes, com a Via Campesina e Intersindical.

No Mato Grosso, mulheres da Via Campesina fizeram ato em Campo Verde (131 quilômetros de Cuiabá) para marcar o Dia Internacional de Soberania Alimentar, com a distribuição de alimentos produzidos nas áreas da Reforma Agrária.

Na Paraíba, Assembléia Popular e Via Campesina realizaram uma marcha pelo centro de João Pessoa contra o aumento do preço dos alimentos e da energia elétrica, que consomem parte substantiva da renda dos trabalhadores.

Em Minas Gerais, cerca de 400 pessoas da Assembléia Popular abriram diálogo com a sociedade sobre a questão dos preços elevados dos alimentos, o preço da energia e a criminalização da pobreza. Para esta sexta-feira, está prevista uma marcha no centro de Belo Horizonte, denunciando uma das grandes redes de supermercado do país.

Ainda estão previstos atos para esta sexta-feira. O 16 de outubro é Dia Mundial da Alimentação, definido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e Dia Internacional em Defesa da Soberania Alimentar, da Via Campesina, quando organizações camponesas, movimentos de mulheres, ambientalistas e consumidores fazem manifestações em o todo mundo para denunciar problemas e apresentar propostas.

A Assembléia Popular é um espaço de articulação de movimentos sociais urbanos, comunidades locais, pastorais, igrejas, sociedade civil e redes de organização popular. A Via Campesina é uma coalizão de movimentos do campo, formada por MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), MMC (Movimento das Mulheres Camponesas), MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), CPT (Comissão Pastoral da Terra), Abra (Associação brasileira de reforma agrária), Feab (Federação dos Estudantes de Agronomia), PJR (Pastoral da Juventude Rural), indígenas e quilombolas.

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Informações à imprensa

Igor Felippe - 11-3361-3866

Maria Mello - 61-8464-6176

Mariana Duque - 21-9736-3678

Soberania alimentar e a agricultura

João Pedro Stédile, economista, integrante da coordenação nacional do MST e da Via Campesina, e Dom Tomás Balduíno, bispo emérito da Diocese de Goiás, conselheiro permanente da CPT (Comissão da Pastoral da Terra), órgão vinculado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil),

(Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 16-10-2008.)

Em 1960, havia 80 milhões de seres humanos que passavam fome em todo o mundo. Um escândalo! Naquela época, Josué de Castro, que agora completaria 100 anos, marcava posição com suas teses, defendendo que a fome era conseqüência das relações sociais, não resultado de problemas climáticos ou da fertilidade do solo.

O capital, com as suas empresas transnacionais e o seu governo imperial dos Estados Unidos, procurou dar uma resposta ao problema: criou a chamada Revolução Verde. Ela foi uma grande campanha de propaganda para justificar à sociedade que bastava "modernizar" a agricultura, com uso intensivo de máquinas, fertilizantes químicos e venenos. Com isso, a produção aumentaria, e a humanidade acabaria com a fome.

Passaram-se 50 anos, a produtividade física por hectare aumentou muito e a produção total quadruplicou em nível mundial. Mas as empresas transnacionais tomaram conta da agricultura com suas máquinas, venenos e fertilizantes químicos. Ganharam muito dinheiro, acumularam bastante capital e, com isso, houve uma concentração e centralização das empresas. Atualmente, não mais do que 30 conglomerados transnacionais controlam toda a produção e comércio agrícola.

Quais foram os resultados sociais?

Os seres humanos que passam fome aumentaram de 80 milhões para 800 milhões. Só nos últimos dois anos, em função da substituição da produção de alimentos por agrocombustíveis, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), aumentou em mais 80 milhões o número de famintos. Ou seja, agora são 880 milhões.

Nunca a propriedade da terra esteve tão concentrada e houve tantos migrantes camponeses saindo do interior e indo para as metrópoles e mudando de países pobres para a Europa e os Estados Unidos. Somente neste ano, a Europa prendeu e extraditou 200 mil imigrantes africanos, a maioria camponeses.

Há oito milhões de trabalhadores agrícolas mexicanos nos Estados Unidos. Setenta países do hemisfério sul não conseguem mais alimentar seus povos e estão totalmente dependentes de importações agrícolas. Perderam a auto-suficiência alimentar, perderam sua autonomia política e econômica.

O pior é que, em todos os países do mundo, os alimentos chegam aos supermercados cada vez mais envenenados pelo elevado uso de agrotóxicos, provocando enfermidades, alterando a biodiversidade e causando o aquecimento global. Isso acontece porque as empresas transnacionais padronizaram os alimentos para ganhar em escala e lucros. Os alimentos devem ser produzidos de acordo com a natureza, com a energia do habitat.

A comida não pode ser padronizada, uma vez que faz parte de nossa cultura e de nossos hábitos. Diante disso, qual é a saída? O Estado, em nome da sociedade, deve desenvolver políticas públicas para proteger a agricultura, priorizando a produção de alimentos. Cada município, região e povo precisa produzir seus próprios alimentos, que devem ser sadios e para todos. Assim nos ensina toda a história da humanidade. A lógica do comércio e intercâmbio dos alimentos não pode se basear nas regras do livre mercado e no lucro, como pretende impor a OMC.

Por isso, consideramos o alimento um direito de todo ser humano, e não uma mercadoria, como, aliás, já defende a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Cada povo e todos os povos devem ter o direito de produzir seus próprios alimentos. Isso se chama soberania alimentar. Não basta dar cesta básica, dar o peixe. Isso é a segurança alimentar, mas não é soberania alimentar. É preciso que o povo saiba pescar!

No Brasil, com um território e condições edafoclimáticas tão propícias, não temos soberania alimentar. Importamos muitos alimentos, do exterior e entre as regiões do país. Mesmo em nossas "ricas" metrópoles, o povo depende de programas assistenciais do governo para se alimentar. A única forma é fortalecer a produção dos camponeses, dos pequenos e médios agricultores, que demandam muita mão-de-obra e têm conhecimento histórico acumulado.

A chamada agricultura industrial é predadora do ambiente, só produz com agrotóxicos. É insustentável a longo prazo. Por isso, neste 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação, as organizações camponesas, movimentos de mulheres, ambientalistas e consumidores faremos manifestações em o todo mundo para denunciar problemas e apresentar propostas para que a humanidade, enfim, resolva o problema da fome no mundo.

João Pedro Stédile e Dom Tomás Balduíno

Crise?

Afinal de contas, que crise é essa?

O que significa? Quais são as consequências

e impactos no Brasil? O que devemos esperar

e como nos preparar para o que está por vir?


Debatedores:

Paulo Arantes (Filosofia – USP)

Christy Pato (Economia – PUC)

Leda Paulano (Economia – USP)

Osvaldo Coggiola (História – USP)


Data: 07/11 (sexta) - 18 H

Local: Sala 8 da Sociais - FFLCH

(Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - USP)

Syngenta cede área de experimentos ilegais de transgênicos para Estado do Paraná

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Via Campesina ocupa três vezes a área e, após mais de dois anos de luta e resistência, expulsa empresa do oeste do estado
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A transnacional suiça Syngenta Seeds assinou a escritura de cessão da área de 127 hectares usada para a realização de experimentos transgênicos ilegais, em Santa Tereza do Oeste, no Paraná,
nesta terça-feira hoje (14), durante a Escola de Governo do Paraná. A área, ocupada três vezes por famílias da Via Campesina, foi palco do assassinato de Valmir Mota de Oliveira, conhecido como Keno, em 21 de outubro de 2007.
A coordenação da Via Campesina no Paraná acredita que a vitória só foi possível por causa da luta incansável e da resistência dos camponeses, que permaneceram acampados na região por mais de dois anos. Além do apoio e da solidariedade internacional, a posição do governo do Paraná também foi importante para resolver o conflito em benefício dos trabalhadores rurais.
Após a reocupação do local pelos camponeses da Via Campesina, em outubro do ano passado, cerca de 40 homens de uma milícia armada, identificada como seguranças da empresa NF, contratada pela Syngenta, atacaram o acampamento Terra Livre. Keno se tornou o primeiro mártir das transnacionais, executado por uma milícia privada dentro da área de uma das maiores multinacionais de biotecnologia, responsável pelo maior caso de contaminação genética comprovado no planeta.

Segundo o governador do Estado, Roberto Requião (PMDB), o local será administrado pelo IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná), que vai se dedicar a produzir e multiplicar sementes crioulas que serão distribuídas aos pequenos agricultores do Paraná e enviadas aos países pobres que foram devastados pelos recentes furacões.

A Via Campesina espera ser parceira do projeto com o governo estadual, que irá transformar o local em um Centro de Referência de Sementes Crioulas. Desde a primeira ocupação da área, em março de 2006, a entidade defende essa proposta. Além disso, a colisão de movimentos do campo faz o compromisso de seguir na luta para a construção de um projeto soberano para a agricultura camponesa, fundamentado na agroecologia, no respeito aos camponeses, na preservação da biodiversidade e na soberania alimentar como um princípio necessário de sobrevivência da humanidade.

Cronologia ocupação área da Syngenta

Março de 2006 - A Ong Terra de Direitos recebe denúncias que a Syngenta cultivava experimentos ilegais de soja e milho transgênico dentro da zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu, em Santa Tereza do Oeste. As denúncias são encaminhadas ao Ministério Público e a Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), e confirmadas por vistoria do próprio Ibama, constando o crime em cerca de 12 hectares no campo de experimento da empresa, á 6 km do Parque Nacional do Iguaçu.

14 de março de 2006 – 600 camponeses da Via Campesina ocupam o campo experimental da transnacional, Syngenta Seeds, em Santa Teresa do Oeste, com objetivo de fortalecer a denúncia de experimentos ilegais de transgênicos. O local foi transformado no "Acampamento Terra Livre". A ocupação aconteceu durante o 3º Encontro das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (MOP-3) e da 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8), em Curitiba. Após a ocupação a transnacional foi multada pelo Ibama em R$ 1 milhão, por praticar experimentos e plantio de soja e milho transgênicos próximo ao uma unidade de conversação, o que era proibido pela Lei de Biossegurança nº 11.105/2005).

Outubro de 2006 – Devido a um mandato de reintegração de posse, os camponeses da Via Campesina são obrigados a desocupar a área, montando acampamento em frente ao local, nas margens da PR-163.

Novembro de 2006 – O governador do Paraná, Roberto Requião desapropria a área da Syngenta para a implantação de um Centro de Pesquisa e Estudo em Agroecologia. Na época mais de 170 entidades do Brasil e do exterior apoiaram a desapropriação do local.

Fevereiro de 2007 – As famílias da Via Campesina reocuparam a área. Época em que o Tribunal de Justiça do Paraná também concedeu liminar de reintegração de posse à Syngenta e suspendeu os efeitos do decreto de desapropriação do campo experimental, do Governador do Paraná.

20 de abril 2007 – Em uma decisão de lobby pró-transgênicos, por unanimidade os desembargadores do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Paraná suspendem definitivamente o decreto de desapropriação de Requião.

18 de julho de 2007 – Devido à nova reintegração de posse, as 70 famílias da Via Campesina foram obrigadas a desocuparam a área, permanecendo acampadas em frente ao campo de experimentos.

20 de julho - Seguranças armados da "NF Seguranças", empresa contratada pela Syngenta e ligada a Sociedade Rural Oeste (SRO), invadiram lotes no assentamento Olga Benário, efetuando disparos e ameaçando as famílias assentadas. Na época, a Via Campesina denunciou as ameaças a Polícia Federal, Ouvidoria Agrária Nacional e Estadual, e à Secretaria de Segurança Pública do Paraná.

21 de outubro de 2007 – A Via Campesina reocupa o campo de experimentos, dia que é assassinado o militante Valmir Mota de Oliveira (o Keno), durante ataque de uma milícia armada, identificada como "seguranças da empresa NF", contratada pela Syngenta, ao acampamento "Terra Livre", que deixou mais cinco trabalhadores gravemente feridos.

Junho de 2008 – Devido às inúmeras batalhas judiciais e reintegrações de posses concedidas à Syngenta pela justiça do Paraná, os camponeses/as são novamente obrigados a desocupar a área.

21 de outubro de 2008 – Um ano de assassinato do militante da Via Campesina Valmir Mota de Oliveira.

A Via Campesina exige justiça em relação ao caso, e luta para que os responsáveis do ataque contra os camponeses/as sejam punidos.
Keno Vive! Globalizamos a luta, globalizamos a esperança! As sementes são patrimônio da humanidade!

COORDENAÇÃO DA VIA CAMPESINA NO PARANÁ
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Informações à imprensa
Jakeline - 41 96765239
Solange - 41 99004971

sábado, 11 de outubro de 2008

MOSTRA ERNESTO GUEVARA, TAMBÉM CONHECIDO COMO CHE

Editora Expressão Popular, Brazucah Produções, Livraria Cultura e Memorial da América Latina convidam para:

MOSTRA ERNESTO GUEVARA, TAMBÉM CONHECIDO COMO CHE

À propósito do lançamento da obra homônima, do historiador mexicano Paco Ignácio Taibo II, o ciclo de documentários e palestras apresenta a história e atualidade de pensamento revolucionário de Che Guevara, que se transformou num ícone do socialismo na América Latina e no mundo.

Especialistas, nacionais e internacionais, companheiros de luta, cineastas e outros, discutem sua figura, atuação e pensamento diante dos desafios atuais e como os propósitos que nutriam seu ímpeto revolucionário seguem imprescindíveis ainda hoje: Solidariedade, Justiça Social, Liberdade, Soberania Política e Reforma Agrária.

CHE GUERRILHEIRO

23/10 quinta feira - Livraria Cultura Market Place

19hs - Un relato sobre el jefe de la columna 4, Sergio Girall, 37 min. Conversa com Eusebio Tapia Aruni, ex-guerrilheiro que esteve lutou ao lado de Che na Bolívia.

ERNESTO GUEVARA DE LA SERNA

24/10 sexta feira - Livraria Cultura Market Place

19hs - Personal CHE, de Douglas Duarte e Adriana Marino, 87 min

Quien és Che Guevara?, Maureen Bisilliat, 10 min.

Bate papo com Maureen Bisilliat, que dirige o pavilhão da criatividade no Memorial da América Latina, e Maria del Carmen Ariet, que dirige centro de memória sobre Che de Havana, Cuba.

CHE HISTÓRIA VIVA

25/10 sábado - Memorial da América Latina - Cine Conexões

Auditório da Biblioteca

19hs – Che onde nunca o imaginaram, 45 min, palestra com Maria del Carmen Ariet e Eusébio Tapia Aruni.

CHE HOJE E A REFORMA AGRÁRIA

26/10 domingo - Memorial da América Latina - Cine Conexões

Auditório da Biblioteca

19h - Constructor cada dia, compañero, Pedro Chaskel, 23min.

Nas terras do Bem Virá, 110 min, Alexandre Rampazzo

Conversa com Alexandre Rampazzo e Marijane Lisboa (Professora da PUC e membro da AAO).

QUANDO PENSO EM CHE

Memorial da América Latina – Cine Conexões

Pavilhão da Criatividade

1/11 sábado

15h – Che, hoy y siempre, Pedro Chaskel, 10 min.

Cuando Pienso en el Che, Gianni Mina, 47 min.

2/11 domingo

15h – Entrevistas com Orlando Borrego, Fernando Martinez Heredia e Aleida Guevara (sem legenda) realizadas por Maureen Bisilliat – que dirige o Pavilhão da Criatividade no Memorial da América Latina.

O mito do colapso americano

Na segunda feira, 6 de outubro de 2008, a crise financeira americana
desembarcou na Europa e repercutiu em todo mundo de forma violenta. As
principais Bolsas de Valores do mundo tiveram quedas expressivas, e
governos e bancos centrais tiveram que intervir para manter a liquidez
e o crédito de seus sistemas bancários. Neste momento, não cabem mais
dúvidas: a crise financeira que começou pelo mercado imobiliário de
alto risco dos EUA já se transformou numa crise profunda e global,
destruiu uma quantidade fabulosa de riqueza e deverá atingir de forma
mais ou menos extensa, desigual e prolongada, a economia real dos EUA
e de todos os países do mundo. Muitos bancos e empresas seguirão
quebrando, nascerão rapidamente novas regras e instituições, e haverá
nos próximos meses uma gigantesca centralização do capital financeiro,
sobretudo nos EUA e na Europa. Os bancos e organismos multinacionais
seguem paralisados e impotentes e se aprofunda, por todo lado, a
tendência à estatização de empresas, à regulação dos mercados e ao
aumento do protecionismo e do nacionalismo econômico. De todos os
pontos de vista, acabou a "era Tatcher/Reagan" e foi para o balaio da
história o "modelo neoliberal" anglo-americano, junto com as idéias
econômicas hegemônicas nos últimos 30 anos. Como contrapartida, mesmo
sem fazer proselitismo explícito, deverá ganhar pontos, nos próximos
meses e anos, em todas as latitudes, o "modelo chinês"
nacional-estatista, centralizante e planejador.

No meio do tiroteio, é difícil de pensar. Talvez por isto,
multiplicam-se, na imprensa e na academia, os adjetivos, as
exclamações e as profecias apocalípticas, anunciando o fim da
supremacia mundial do dólar e do poder global dos EUA, ou do próprio
capitalismo americano. Na mesma hora em que os governos e investidores
de todo mundo estão se refugiando no próprio dólar e nos títulos do
Tesouro americano, apesar de sua baixíssima rentabilidade e apesar de
que o epicentro da crise esteja nos EUA. E, o que é mais interessante,
são os governos dos Estados que estariam ameaçando a supremacia
americana os primeiros a se refugiarem na moeda e nos títulos
americanos. Para explicar este comportamento aparentemente paradoxal,
é preciso deixar de lado as teorias econômicas convencionais sobre o
"padrão-ouro" e o "padrão-dólar", e também as teorias políticas
convencionais sobre as crises e "sucessões hegemônicas" dentro do
sistema mundial.

Comecemos pelo paradoxo da "fuga para o dólar", em resposta à crise do
próprio dólar. Aqui é preciso entender algumas características
específicas e fundamentais do sistema "dólar-flexível". Desde a década
de 1970, os EUA se transformaram no "mercado financeiro do mundo", e o
seu Banco Central (Fed), passou a emitir uma moeda nacional de
circulação internacional, sem base metálica, administrada através das
taxas de juros do próprio Fed e dos títulos emitidos pelo Tesouro
americano, que atuam em todo mundo como lastro do sistema
"dólar-flexível". Por isto, a quase totalidade dos passivos externos
americanos é denominada em dólares e praticamente todas as importações
de bens e serviços dos EUA são pagas exclusivamente em dólar. Uma
situação única que gera enorme assimetria entre o ajuste externo dos
EUA e dos demais países. Por isto também, a remuneração em dólares dos
passivos externos financeiros americanos que são todos denominados em
dólar seguem de perto a trajetória das taxas de juros determinadas
pela própria política monetária americana, configurando um caso único
em que um país devedor determina a taxa de juros de sua própria
"dívida externa".

Uma mágica poderosa e uma circularidade imbatível, porque se sustenta
de forma exclusiva no poder político e econômico americano. Agora
mesmo, por exemplo, para enfrentar a crise, o Tesouro americano
emitirá novos títulos que serão comprados pelos governos e
investidores de todo mundo, como justifica o influente economista
chinês, Yuan Gangming, ao garantir que "é bom para a China investir
muito nos EUA; porque não há muitas outras opções para suas reservas
internacionais de quase US$ 2 trilhões, e as economias da China e dos
EUA são interdependentes". (FSP, 24/11).

Mas, além disto, do ponto de vista da hierarquia mundial, se esta
crise for administrada de forma estratégica pelo governo americano,
ela poderá reforçar, ao invés de enfraquecer, a posição futura dos EUA
dentro do sistema mundial. Para entender este segundo paradoxo,
entretanto, é necessário ir um pouco além da economia e das finanças,
e analisar com cuidado a origem e os desdobramentos das crises e da
competição entre os Estados nacionais. Em primeiro lugar, quase todas
as grandes crises do sistema mundial foram provocadas, até hoje, pela
própria potência hegemônica. Em segundo lugar, estas crises são
provocadas quase sempre pela expansão vitoriosa (e não pelo declínio)
das potências capazes de atropelar as regras e instituições que eles
mesmos criaram num momento anterior, e que depois se transformam num
obstáculo no caminho da sua própria expansão. Em terceiro lugar, o
sucesso econômico e a expansão do poder da potência-líder é um
elemento fundamental para o fortalecimento de todos os demais Estados
e economias que se proponham concorrer ou "substituir" a potência
hegemônica. Por isto, finalmente, as crises provocadas pela
"exuberância expansiva" da potência-líder afetam em geral de forma
mais perversa e destrutiva aos "concorrentes" do que ao próprio líder,
que costuma se recuperar de forma mais rápida e poderosa do que os
demais.

Resumindo: "apesar da violência desta crise financeira, não deverá
haver um vácuo nem uma 'sucessão' na liderança política e militar do
sistema mundial. E, do ponto de vista econômico, o mais provável é que
ocorra uma fusão financeira cada maior entre a China e os Estados
Unidos".



José Luís Fiori
professor titular do Instituto de Economia da UFRJ.
Artigo publicado no Valor Econômico (08/10)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O preço da coerência

Após o resultado negativo nas urnas para o PSOL, creio que cabem aqui algumas reflexões. Durante esses quatro anos exercemos um mandato que jamais se afastou das propostas pelas quais fomos eleitos pelo PT em 2004. Saímos do PT para continuarmos a cumprir aquilo pelo qual fomos eleitos, que foi o compromisso de lutarmos junto com o povo de Campinas por um município e um país justo para todas e todos. O tempo demonstrou que estávamos certos em nossa decisão, pois, mais tarde, o PT formalizou seu apoio ao Governo Hélio ao qual temos grandes discordâncias. Fomos construir o Partido Socialismo e Liberdade sabendo das dificuldades que enfrentaríamos e os desafios que nos estavam colocados. O PSOL ainda é um projeto em construção. É um novo partido contra a velha política e não um balcão de negócios e, devido a isso, enfrenta e enfrentará dificuldades eleitorais. Nessas eleições, pagamos o preço da coerência, pois com o número de votos que tivemos, teríamos sido eleitos na maioria dos partidos que terão representação na Câmara.

No entanto, temos o sentimento de dever cumprido. Fiscalizamos a atuação do Executivo e o trato com o dinheiro público com todo o rigor que o tema merece. Estivemos ao lado do povo de nossa Campinas em todos os momentos necessários: lutando por médicos, remédios, moradia, transporte público, contra qualquer discriminação, contra a destruição do meio ambiente.

Também enfrentamos nesse processo eleitoral um devastador poder econômico que, certamente, cobrará a fatura na próxima legislatura. Além do assistencialismo e do clientelismo tão praticados pela maioria dos políticos que mantêm nosso povo dependente. Não aceitamos dinheiro de empreiteiras e banqueiros, não prestamos favores em troca de votos e contamos com a militância e a solidariedade das pessoas em nossa campanha. Diferente de muitos partidos, fizemos uma campanha de cabeça erguida sem dever nada a ninguém. Tive 3.188 votos, porém, infelizmente, a Frente de Esquerda de Campinas não alcançou o coeficiente eleitoral para eleger uma representante na Câmara de Vereadores.

O prefeito Hélio teve uma vitória contundente nas urnas, mas, mesmo assim, reafirmamos nossa discordância com o atual projeto instalado na cidade. Neste processo de denúncia, nosso companheiro e candidato a prefeito, Paulo Bufalo, nos honrou muito com coerência e coragem ao apontar os verdadeiros problemas da cidade, sem marqueteiros e sem uma campanha milionária. E também apresentou a Frente de Esquerda como alternativa ao projeto predominante não só em Campinas, mas no Brasil.

Mesmo sem uma cadeira no Legislativo, estaremos nas ruas, de onde nunca nos afastamos e nunca nos afastaremos, denunciando todo e qualquer tipo de injustiça e abuso de poder, porque nossa luta não começou em 2004 e não terminará em 2008. Não vemos a política como carreira e onde houver luta e indignação, lá estaremos contribuindo para a construção de uma sociedade justa e solidária. Sempre que houver um ataque ao povo de Campinas, lá estaremos lutando contra, assim com fizemos nesse mandato.

Assim, agradeço a cada voto depositado na Frente de Esquerda e aproveito para reafirmar: não basta votar, é preciso lutar. Não estaremos na tribuna da Câmara, mas as ruas continuarão a ser ocupadas pela nossa militância levantando as bandeiras dos trabalhadores e construindo uma cidade justa. Se um dia fizermos por merecer e, voltarmos a ocupar a tribuna da Câmara Municipal de Campinas será sem nos afastar um milímetro sequer de nossos ideais e convicções. E isso não quer dizer que não aprenderemos com nossos erros que, certamente, houveram. Para aqueles que se indignam diante de toda e qualquer injustiça convido a se juntarem a nós.


Marcela Moreira

vereadora de Campinas

pelo Partido Socialismo e Liberdade

Contatos: (19) 3385-8339

marcelapsol@gmail.com

www.marcelamoreirapsol.com.br

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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Credo

Composição: Milton Nascimento e Fernando Brant

"Caminhando pela noite de nossa cidade
Acendendo a esperança e apagando a escuridão
Vamos, caminhando pelas ruas de nossa cidade
Viver derramando a juventude pelos corações
Tenha fé no nosso povo que ele resiste
Tenha fé no nosso povo que ele insiste
E acordar novo, forte, alegre, cheio de paixão

Vamos, caminhando de mãos dadas com a alma nova
Viver semeando a liberdade em cada coração
Tenha fé no nosso povo que ele acorda
Tenha fé no nosso povo que ele assusta

Caminhando e vivendo com a alma aberta
Aquecidos pelo sol que vem depois do temporal
Vamos, companheiros pelas ruas de nossa cidade
Cantar semeando um sonho que vai ter de ser real
Caminhemos pela noite com a esperança
Caminhemos pela noite com a juventude"

Blindagem do Brasil à crise externa é de ‘papel crepom’

Correio da Cidadania

A gravidade da crise econômica mundial, originada na débâcle do mercado de hipotecas subprime dos Estados Unidos, parece realmente não mais se constituir uma surpresa ou novidade a nenhum leigo. Assim como também não é desconhecida a possibilidade de ainda estarmos frente somente a uma ponta do iceberg, qual seja, pode haver mais catástrofes à vista.

Quanto às repercussões na economia brasileira, a dúvida é, no entanto, o que predomina entre os cidadãos que acompanham atônitos a maior depressão desde a crise de 1929. A despeito das enormes descidas morro abaixo da Bolsa de Valores de São Paulo, deparam-se esses cidadãos com estatísticas muito favoráveis relativamente ao crescimento da economia e da renda, à diminuição do desemprego, dando conta estas estatísticas até mesmo de um incremento da classe média no país, a qual teria tomado o lugar da pobreza.

Nossas reservas externas seriam, ademais, grandes o suficiente para reforçar os nossos sólidos fundamentos econômicos e garantir a estes trópicos um bom lugar na travessia da tormenta.

Não é, infelizmente, esta otimista noção quanto à crise mundial e suas repercussões internas que transparece da aguçada análise que o economista e professor da UFRJ, Reinaldo Gonçalves, teceu a este Correio.

Confira abaixo a entrevista completa.

Correio da Cidadania: A crise atual da economia americana tem colocado vários teóricos e estudiosos diante do seguinte dilema: o capitalismo vive uma crise estrutural profunda? Qual o teor e profundidade dessa crise a seu ver, especialmente quando sabemos que os ativos financeiros são cerca de 4 vezes superiores ao PIB mundial na atualidade?

Reinaldo Gonçalves: Essa crise é particularmente séria por ter três dimensões: a principal é a financeira, com essa crise sistêmica dos EUA. Há também um transbordamento para o lado real da economia, ou seja, uma desacelaração forte do investimento, da geração de renda e do emprego. Já o terceiro aspecto, é que ela tem ocorrido em um momento de aceleração inflacionária não desprezível na economia mundial. Há, portanto, três vetores: o financeiro, o real e um último relativo aos preços.

É uma crise diferente desde que conheço o capitalismo, nada comparável à crise de 29, que teve origem em problemas no lado real da economia, quando havia muito investimento, muita capacidade produtiva; os investimentos se reduziram, o emprego e a renda também e, depois, como conseqüência de o lado real não andar bem, o lado financeiro explodiu. Nesse momento não há nenhuma pressão de empresas na economia dos EUA e nem na mundial.

Essa crise, do ponto de vista da sua natureza, é mais séria e abrangente do que as outras.

CC: Os EUA vão manter sua hegemonia mundial após essa crise? Segundo a economista Maria da Conceição Tavares, se não resolverem tudo antes das eleições, perderão a hegemonia, já que não têm mais reservas, que estão com a China, mas somente dívidas.

RG: Creio que essa crise não abala a hegemonia norte-americana, pois ela é variada. Tem uma vertente claramente cultural, outra militar (muito expressiva), outra tecnológica (também muito importante) e finalmente uma força monetária e financeira enorme. A moeda chave do sistema monetário internacional é o dólar, que responde por mais de 70% das operações do sistema financeiro.

Dessa forma, o sistema financeiro americano é o pilar do sistema financeiro internacional. E esse sistema depende em grande medida do próprio envolvido, da esfera financeira norte-americana.

No caso da China, a maior parte das reservas em dólar é de títulos privados associados ao mercado norte-americano. À medida que o risco mundial aumenta, a tendência é que se corra para os EUA e para seu tesouro. Portanto, não vejo nenhuma razão para imaginar que, num horizonte previsível de 10, 15 anos, haverá uma troca de hegemonia, pois na verdade ela se dá em múltiplas frentes.

CC: Qual a sua opinião sobre as intervenções estatizantes que o governo americano tem feito para lidar com a crise que se originou nas hipotecas subprime e também sobre esse novo pacote, inicialmente de 700 bilhões de dólares, que está patinando no Congresso? Terão alguma efetividade?

RG: Certamente sou a favor do pacote, que tenta travar uma crise financeira que abrange todo o mundo. Se a crise se restringisse só aos EUA, seria problema deles, neste caso poderíamos torcer contra. Mas o fato central é o transbordamento. Os EUA não são o Brasil. Se a crise acontecesse aqui, não teria importância em nenhum canto do mundo, mas está se sucedendo nos EUA e tem repercussão internacional.

Acho que essas medidas são corretas. O governo Bush tentou primeiro aumentar a liquidez do sistema financeiro, depois mexeu com a taxa de juros, e ainda houve as operações de resgate, estatizando aquelas empresas de crédito imobiliário e seguros, como a Fannie Mae e a Freddie Mac. Quanto ao pacote, tem o sentido de gerar recursos às empresas e bancos de investimento que se envolveram em toda essa crise e eventualmente estabilizá-los. O problema é saber se essas novas medidas vão destravar ou não o sistema, já que são uma nova tentativa do governo americano.

700 bilhões de dólares, ademais, não é muito dinheiro, correspondem a 6% do PIB americano. Lembremos que o Lula no Brasil todo ano gasta mais de 10% do nosso PIB com juros. Portanto, 6% do PIB americano é pouco dinheiro, é provável que tenham até de aumentar a quantidade de recursos a curto prazo. A questão central é, portanto, a sociedade americana querer controlar o Executivo no uso desses recursos públicos.

CC: Pelas repercussões que essa crise pode ter, não se trata, portanto, de punir os culpados, mas de salvar os inocentes.

RG: Acho que o tema central deste pacote, que certamente será aprovado, é a punibilidade. Numa democracia como a americana, mesmo com todos os seus problemas, as instituições são robustas de acordo com os padrões internacionais. Há duas questões em jogo: um contrapeso ao Executivo, de um lado, e essa punibilidade, de outro.

Dada a existência de fatores como informações privilegiadas, burocracia administrativa, corrupção e fraudes, nas sociedades avançadas, como a dos EUA, há uma preocupação em punir os responsáveis. O que houve é que o projeto do Bush não estava muito claro a respeito dessa punição. Esse imbróglio passa, deste modo, pela falta de um acordo em torno de dois pontos citados: a punibilidade e o controle do capital sobre recursos públicos, o que mostra a força da sociedade.

No Brasil, um governador, meia dúzia de senadores e deputados, que mais funcionam como despachantes, atravessam os corredores de Brasília, vão à sala da presidência, passam a fatura e assim são liberados bilhões de reais, como ocorreu no Proer (programa de salvamento de bancos no governo FHC) e como acontece nas renegociações de dívidas de grandes empresas, reproduzindo o expediente de privatização dos lucros e socialização dos prejuízos.

Para sorte do mundo, a sociedade americana é uma sociedade robusta e a morosidade, ao final das contas, tem algo de positivo, podendo levar a um acordo mais eficaz.

CC: Quanto à saúde da economia brasileira, muito se aventa a noção de nossos sólidos fundamentos econômicos, o que nos garantiria um lugar seguro pra atravessar a tormenta. Teríamos 200 bilhões de dólares em reservas externas, um bom colchão, mas ao mesmo tempo é sabido que os capitais especulativos, voltados a aplicações de curto prazo, representam hoje mais de 50% de nosso passivo externo (investimentos externos, mais capitais de curto prazo e outros investimentos). Estamos mesmo tão robustos?

RG: O Brasil tem uma enorme vulnerabilidade externa. Ela ocorre na esfera comercial, produtiva, tecnológica, monetária, financeira. A estabilidade do Brasil na verdade é falsa, é uma estabilidade de papel crepom. As reservas internacionais brasileiras correspondem hoje ao valor da dívida externa, enquanto a dívida interna é 5 vezes maior que as reservas, com um valor superior a 1 trilhão de reais. Somente o passivo de curto prazo está em torno de 600 bilhões de dólares, ou seja, três vezes as reservas.

Além disso, com essa liberalização financeira e cambial, o Brasil, que é uma casa da mãe Joana do capital, permite tanto a estrangeiros como a brasileiros converterem seus ativos monetários em dólar e mandá-los ao exterior.

O fato de o Brasil depender só em 15% do mercado americano para as suas exportações é ilusão, pois aumentamos muito nossa dependência em relação aos mercados mexicano, chileno e chinês. E esses foram três mercados que aumentaram muito suas dependências dos EUA. Assim, indiretamente, o Brasil continua tão dependente quanto antes do mercado americano para as exportações.

Dessa forma, repetindo o que já disse anteriormente, o Brasil tem uma blindagem de papel crepom e, assim que chover no sistema econômico internacional, ficaremos nus no meio da avenida, exatamente como já está acontecendo e acontecerá daqui em diante.

CC: Estão também os leigos brasileiros diante do seguinte paradoxo: em meio à crise, a economia brasileira estampou no início de setembro dados muito favoráveis, com maiores investimentos industriais e consumo das famílias no primeiro semestre, o que garantiria um crescimento do PIB de 5% nesse ano, ancorado na ampliação, portanto, do mercado interno. Ademais, o IBGE acaba de divulgar dados sobre a diminuição da taxa de desemprego e aumento da renda. O que você teria a dizer sobre estas estatísticas?

RG: Na realidade, a economia mundial cresceu de 2003 a 2007 e o Brasil, ainda que tenha pegado carona nesse movimento, ficou atrás dele, crescendo bem abaixo da média.

Em 2007, o Brasil teve um crescimento substantivo no finalzinho do ano. A partir do final de 2007, no entanto, a economia mundial começou a descer a ladeira. Na realidade, em setembro, o Brasil ainda estava vivendo o impacto do crescimento do ano passado, o que duraria todo o primeiro semestre deste ano. Daqui para frente, toda a pressão recairá sobre o país. Com o agravante de que, quando o mundo acelera, o Brasil acelera menos; quando o mundo cai, o Brasil cai mais rápido.

Quanto à questão do mercado interno, o ponto é o seguinte: o mercado interno depende da inserção do país no mercado internacional. Ou seja, o governo Lula aprofundou a vulnerabilidade externa estrutural do país, tanto do ponto de vista da intensificação de nossa dependência com relação à exportação de produtos primários, especialmente as commodities, como pela fragilidade do sistema nacional de inovações. E o aumento da desnacionalização da economia criou uma maior dependência do mercado de capitais e do sistema financeiro mundial.

Portanto, o Brasil, ao invés de se fortalecer, aumentou a liberalização e a desregulamentação comercial e financeira, que intensificam sua vulnerabilidade externa estrutural. Estamos tão fracos como há 5, 10 anos. E essa dependência do mercado interno para com o internacional significa o seguinte: quando se tem uma mudança de câmbio, há um impacto inflacionário imediato, já que o coeficiente de importações aumentou muito.

Com esse impacto inflacionário bem maior hoje, o que o Banco Central brasileiro vai fazer é aumentar ainda mais a taxa de juros. Aumentando a taxa de juros, restringe-se o crédito e acirra-se o aperto fiscal, ou seja, a economia brasileira vai travar. É uma questão de tempo, já deve estar até ocorrendo, e certamente já haverá desaceleração em 2008 em comparação a 2007, e em 2009 relativamente a 2008. Todas as previsões são de uma forte desaceleração da economia brasileira.

Ou seja, o Brasil está descendo a ladeira. Esperemos, no entanto, que o vagão brasileiro sofra uma desaceleração, e não um descarregamento, como ocorreu em 1999 e em 2002/03. O governo Lula só fez transformar o Brasil num país mais vulnerável estrutural e economicamente.

CC: Ou seja, o reiterado aumento de juros pelo Banco Central por si só já desmente esse crescimento sustentado e, ainda por cima, ancorado no mercado interno.

RG: Exatamente. Na verdade, é uma fraude dizer que o Brasil tenha blindagem. Na mínima turbulência do sistema econômico internacional, estaremos em meio a grande tempestade, que, aliás, já começou.

CC: Sabendo estar o desempenho da economia brasileira tão atrelado ao setor de commodities, "reprimarizando" nosso comércio e indicando nossa fragilidade estrutural, a que você atribui esse vai e vem recente, com grandes altas e grandes baixas de preços, repercutindo na inflação interna? Trata-se de um movimento vinculado ao crescimento da economia mundial ou originário de fortes ações especulativas?

RG: O problema das commodities é que elas são intrinsecamente voláteis em seus preços. As receitas delas oriundas são, assim, também voláteis. Não se trata, portanto, de uma questão de especular no sistema mundial do comércio, mas sim da instabilidade de preços e das receitas de exportação derivadas de commodities, o que não é nenhuma novidade.

O que acontece no caso brasileiro? O primeiro ponto a se lamentar é que o governo Lula está enforcado não só pela dívida interna, mas também pelos projetos orientados para a exportação de produtos primários, o etanol, soja, açúcar etc.

O segundo problema é que, daqui em diante, com essa desaceleração da economia mundial, a tendência é os preços das commodities caírem, o que já vem acontecendo, aliás.

Assim, o Brasil já está sofrendo as conseqüências dessa instabilidade das commodities. No horizonte de curto e médio prazo, a tendência, com a queda de preços, é o aumento déficit das contas externas brasileiras, já se deteriorando de forma acelerada. Portanto, essa crescente dependência do comércio internacional em relação às commodities, ao lado da crescente deficiência em infra-estrutura, ademais atualmente fortemente atrelada ao setor de commodities, fazem com que o Brasil tenha uma estrutura produtiva cada vez mais vulnerável, ou seja, uma vulnerabilidade externa maior na esfera comercial e produtiva.

Dessa forma, a questão é: com a queda dos preços das commodities, o que acontecerá com a dívida do agronegócio? Será renegociada pela enésima vez com tratamento preferencial? O que vai acontecer com os investimentos em infra-estrutura que são orientados para as commodities? Vão se tornar menos rentáveis? Mas quem pagará por isso? Vai recair tudo sobre o povo e a sociedade?

Sem dúvida alguma, todo esse cenário implicará num menor dinamismo da economia brasileira, que reflete a realidade da carta de investimentos medíocres que o país possui, seja nos padrões brasileiros ou internacionais. E essa dependência das commodities significará novamente uma condição muito precária para investimentos, acompanhada de baixa geração de renda e emprego. E o mercado interno sofre com isso. Aumenta-se a taxa de juros, o crédito diminui e, por fim, temos mais crise financeira.

CC: Você tem algum prognóstico positivo em meio a esse quadro sombrio?

RG: A questão é que o Brasil perdeu uma excelente oportunidade, entre 2003 e 2007, de fazer reformas estruturais relevantes e reduzir sua vulnerabilidade externa estrutural. Isso derivou de uma estratégia equivocada do governo Lula entre esses anos, e o crescimento medíocre da economia brasileira atesta esse fato.

O padrão de inserção internacional é muito frágil, sofremos uma dominação forte do setor financeiro, com um governo medíocre e covarde.

Agora, o Brasil tenta retomar sua trajetória, mas a economia internacional vai deixar o país literalmente pendurado e a blindagem de papel crepom desaparecerá, o que conduzirá o país a uma recessão. Entraremos numa forte desaceleração do crescimento. Esperemos que não signifique uma crise econômica e política mais profunda. Até 2010, muita água vai correr embaixo dessa ponte, que certamente vai trepidar bastante.

Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.

Colaborou o jornalista Gabriel Brito.