segunda-feira, 21 de julho de 2008

Ato Cultural Campo e Cidade

26 de julho - Dia Nacional de Rebeldia Cubana

MST OCUPA SUPERINTENDÊNCIA DO INCRA EM SÃO PAULO

Cerca de 400 trabalhadores e trabalhadoras do MST ocuparam na manhã desta segunda-feira a superintendência regional do do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), em São Paulo. Essa ação tem como objetivo chamar atenção da sociedade, pois a política do atual governo não pauta a Reforma Agrária como uma das prioridades do país. As políticas compensatórias utilizadas hoje, não devem ser utilizadas como solução para o campo, e sim deve ser feito um projeto voltado aos pequenos produtores.

Durante o ano, diversas jornadas buscaram em todo o país chamar atenção para a questão agrária. No entanto, apesar das negociações, a reforma agrária está parada. Cerca de 150 mil famílias continuam acampadas em todo o país. A falta de infra-estrutura e assistência técnica nas áreas de assentamentos continuam sendo um problema; os trâmites internos para os processos de desapropriação permanecem vagarosos; os poucos investimentos do governo não têm modificado a situação de risco que as famílias do campo se encontram.

Em São Paulo, 1.600 famílias permanecem acampadas, e outras 700 não tiveram acesso a crédito e infra-estrutura para terem possibilidade de sobreviver do trabalho no campo.

O governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva herdou uma Medida Provisória editada na gestão de Fernando Henrique Cardoso que impede a vistoria e a desapropriação de propriedades rurais ocupadas. A MP 2.027-38, editada em maio de 2000, tem como objetivo reverter o número de ocupações de terra no país. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra exige a revogação dessa MP que é totalmente contrária aos avanços da Reforma Agrária.

A assistência técnica nas áreas de assentamento garantem melhorias na produção, por meio da organização que influencia o resultado final do produto. A não destinação de recursos para a assistência técnica, até o momento, por parte do Incra, prejudica a renda de milhares de famílias assentadas.

A falta de infra-estrutura não garante questões básicas aos assentados, tais como boas condições das estradas, além da garantia de água e luz para os trabalhadores e trabalhadoras do campo.

Os poucos investimentos do governo e a falta de uma linha de crédito, por sua vez, também impedem avanços questão. Isso faz com que a agricultura familiar seja prejudicada, e quem mais tem problemas com isso é o próprio mercado interno, que sofre com a crise de alimentos. No período de 30 anos, que teve início na década de 70, cerca de 700 mil pessoas deixaram o campo. O fato mais alarmante é que esse processo segue em andamento.

O governo tem dado prioridade ao agronegócio, que avança sobre o território brasileiro, conquistando terras que deveriam ser destinadas aos trabalhadores rurais. Só o Banco do Brasil emprestou 7 bilhões de dólares para 13 grupos econômicos investirem na produção para exportação, enquanto os assentamentos não recebem investimento suficiente.

Além de tudo isso, os movimentos sociais ainda sofrem uma ofensiva por parte do Estado, do poder judiciário e das milícias privadas. Os trabalhadores e trabalhadoras rurais são perseguidos, mortos e sofrem violência física. A luta pela Reforma Agrária não pode ser tratada como caso de polícia. Os movimentos sociais não podem ser criminalizados para que o agronegócio prevaleça em nosso país.


sábado, 19 de julho de 2008

Socialismo do Século XXI

Correio da Cidadania

Os socialistas não encontram dificuldades para criticar o capitalismo. Por mais acerbas que sejam, as críticas são bem recebidas pelas platéias populares e estudantis. O problema surge quando alguém pergunta: que solução tem o socialismo para o problema da liberdade?

Nessa hora, de nada adianta fazer a surrada distinção entre a liberdade real que as pessoas desfrutam nos regimes socialistas e a liberdade formal garantida nas constituições burguesas. Essa resposta não cola porque é uma forma de ladear a dificuldade.

Uma coisa é poder reclamar da atuação do administrador do bairro, da qualidade da comida da cantina, dos critérios do chefe da seção da fábrica; outra, muito diferente, é reunir pessoas na praça pública para protestar contra as políticas públicas do governo ou escrever no jornal contra essas políticas. Mas este é o tipo de liberdade que todos querem e que as várias experiências de concretização da proposta socialista não conseguiram oferecer.

O homem é um animal político e quer participar das decisões que afetam a sua vida na polis, de modo que, enquanto os socialistas não forem capazes de dar uma resposta concreta à questão da liberdade política, não será possível fazer o socialismo avançar.

Para enfrentar essa questão, é preciso agir simultaneamente em dois planos:

- no plano do pensamento, é preciso passar a limpo as experiências socialistas, sem preocupação apologética e sem capitular diante da crítica desonesta dos seus adversários;

- no plano da prática política, é preciso criar organizações socialistas - partidos, sindicatos, movimentos populares - que desenvolvam em seu interior uma cultura democrática de maneira a sancionar eticamente qualquer limitação à liberdade.

Organizações que funcionem dessa maneira, pré-figurando o socialismo do século XXI, encontrarão facilmente as modalidades jurídicas de assegurar plena liberdade das pessoas na ordem socialista, seja qual for o contexto político do momento da ruptura do regime burguês.

E o exemplo desse tipo de funcionamento, durante a longa fase de reconstrução da proposta socialista, valerá mais do que cem discursos para convencer as pessoas de que só no socialismo se pode falar verdadeiramente em liberdade, porque só o socialismo satisfaz a condição da igualdade, sem a qual as liberdades formais da ordem burguesa não passam de ficção.

Plínio de Arruda Sampaio

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Operário em Construção

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade

Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente

Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
— Garrafa, prato, facão —
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia

Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo

Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão.
Pois além do que sabia
— Exercer a profissão —
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:

A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte

Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação.
— “Convençam-no” do contrário — Disse ele sobre o operário

E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento

Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
— Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro de seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.

E o operário disse: Não!

— Loucura! — Gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
— Mentira! — disse o operário

Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Como o medo em solidão
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

Vinícius de Moraes