A representação que o PSOL acaba de protocolar no Conselho de Ética do Senado, contra Sarney e Renan, é anúncio e denúncia.
Anúncio de que nós temos independência para questionar aqueles que lideram um esquema que envolveu, como cúmplices ou beneficiários, todos os grandes partidos políticos daquela Casa, que mais se parece um clube privado de tráfico de vantagens e privilégios para seus sócios.
Denúncia de que se deve combater, para além dessas tristes figuras ainda tão poderosas, todo um sistema político fundado no patrimonialismo, clientelismo e mandonismo. Sistema que produziu uma coalizão de governo, tanto na era FHC quanto na era Lula, que combina a "modernidade" do capitalismo financeirizado - os lucros extraordinários dos bancos o revelam - com o carcomido coronelismo das oligarquias tradicionais e a manipulação do povo pobre, jogado na desinformação que despolitiza.
O Senador Pedro Simon, da própria base de governo na era FHC anunciava essa coalizão: "…eu não sei se o presidente Fernando Henrique rouba, nem se ele deixa roubar, mas de uma coisa eu tenho absoluta certeza: ele não deixa investigar de jeito nenhum". Agora, é próprio presidente Lula, quem confirma a existência dessa coalizão, ao defender, em primeira hora, seu aliado Sarney: "O Senador tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como uma pessoa comum".
FHC e Lula, PSDB e PT são a ´vanguarda` desse atraso. Optaram por uma forma tradicional de governabilidade, que reforça a promiscuidade entre as siglas (PT, PTB, PMDB, PSDB, ...) que, segundo Arthur Dapieve (O Globo 26/06), oferece "uma das mais óbvias chaves para se compreender a sobrevivência de personagens como Sarney ou Renan na nossa política. Eles se ajeitam com quem quer que porventura esteja no poder, barganhando posições e vantagens com os arcaicos votos de cabresto que mantêm em suas bancadas. São os antianarquistas: se há governo, são a favor. Enquanto isso, PT e PSDB se detestam mais pelas suas semelhanças do que pelas suas diferenças".
O PSOL fará sempre a boa batalha contra a corrupção e por isso entramos hoje com representação contra os Senadores José Sarney e Renan Calheiros no Conselho de Ética. Também estamos buscando assinaturas no Senado para a criação de uma CPI que aprofunde as investigações, que até o momento só conta com 3 assinaturas (nada mais revelador do conluio entre os grandes partidos para evitar as investigações).
Mas a corrupção não é uma seqüência de fatos isolados que se repetem. E sim uma cultura que azeita o funcionamento da máquina de poder (sendo o Senado um de seus palcos privilegiados), que articula os pontos fortes da economia com o intestino grosso da pequena política. Por isso o PSOL vai além, e propõe renovar os mecanismos de representação, com restrições ao financiamento privado de campanha, mecanismos de participação direta e outras propostas já apresentadas na atualização de regras eleitorais que será votada em breve na Câmara dos Deputados.
Agradeço a atenção,
Sala das Sessões, 30 de junho de 2009.
Deputado Federal, PSOL/RJ
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