segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Delegado Protógenes abre o jogo da corrupção

Com pouco mais de 10 anos de carreira na Polícia Federal, o delegado Protógenes Queiroz investigou vários casos da mais alta corrupção, conheceu por dentro algumas operações que expuseram as bandalheiras de gente rica e famosa, colocou na cadeia a fina flor da bandidagem, como Paulo Maluf, Celso Pitta, Naji Nahas, Law Kim Chong. Ficou conhecido do grande público recentemente com a coordenação da operação Satiagraha, que desmontou a lavanderia chamada Banco Opportunity, de Daniel Dantas.

Em entrevista para a revista Caros Amigos, edição de dezembro, o delegado lembra episódios escabrosos dos crimes do colarinho branco no Brasil, confirma fatos sobre casos famosos dos últimos dez anos e faz inúmeras revelações sobre investigações realizadas pela Polícia Federal e o Ministério Público que apontaram o envolvimento de banqueiros, empresários, doleiros e políticos – entre os quais o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e o atual ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.

BanestadoO delegado lembra que as contas CC5, autorizadas pelo Banco Central no governo FHC, foram responsáveis pela evasão de pelo menos 100 bilhões de dólares. A maior parte do dinheiro enviado para o exterior era fruto do narcotráfico, do caixa dois de grandes empresas e do desvio do dinheiro público. Lembra que Daniel Dantas, Maluf e as grandes construtoras – Odebrecht, OAS, Mendes Junior, Queiroz Galvão etc – estavam no esquema. Conta que a Polícia Federal prendeu um jovem paraguaio, filho de uma senadora daquele país, com três milhões de dólares para depositar, o juiz fixou a fiança em 500 mil e, na época, quem pagou a fiança foi Reinhold Stephanes, atual ministro da Agricultura do governo Lula.

Banco Paribas – O delegado conta que no final do governo FHC o Banco Central do Brasil lançou títulos na Europa, que eram comprados a preços bem inferiores, mas que podiam ser convertidos pelo valor de face desde que investidos no Brasil. Alguns banqueiros franceses e um antigo amigo de FHC (Alberto Participações) montaram uma operação para forjar o “investimento” em empresas fantasmas. O delegado calcula que essa operação – bancada pelo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, com o apoio do presidente FHC – permitiu o desvio e a remessa para o exterior, via Banco Paribas, de 20 milhões de dólares. A investigação desse caso foi abafada e até hoje não tem o devido esclarecimento sobre todos os beneficiários do assalto aos cofres do Banco Central.

Banco Opportunity – O delegado esclarece que a origem da investigação sobre o Banco Opportunity foi a operação Chacal, quando a Polícia Federal investigou a fraude da Parmalat e a atuação da Kroll no Brasil, que é uma empresa de espionagem dos Estados Unidos. Na época, 2003 e 2004, a apreensão do HD de um computador de Daniel Dantas poderia revelar muita coisa, mas a ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal determinou o lacre do HD. Somente em 2007, já com a operação Satiagraha, é que o HD foi aberto, o que permitiu descobrir o esquema montado por Daniel Dantas para colocar dinheiro sujo no exterior e fazer a lavagem e trazer o dinheiro de volta. Coincidentemente os clientes do Daniel Dantas são os mesmos do Banestado: contrabandistas, narcotraficantes, empresários e políticos. Por isso mesmo o banqueiro Daniel Dantas foi preso duas vezes por ordem de juiz de 1ª instância e liberado em menos de 24 horas por ordem no presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes. Dantas tem as costas largas.

Vale lembrar que nenhuma das operações descritas pelo delegado Protógenes poderia ter existido sem contar com a conivência e a cumplicidade do Banco Central do Brasil. Quem manda no Banco Central do Brasil?


Hamilton Octavio de Souza

jornalista e professor da PUC-SP

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