segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Reeleito, Evo prega unidade e promete avançar na mudança



Diante de uma multidão delirante, que encheu a Plaza Murillo, em La Paz,
Morales chamou seus adversários a "servirem", em conjunto, à Bolívia. "Faço um apelo às autoridades que não querem trabalhar com Evo, a prefeitos, empresários, cívicos, intelectuais, que venham servir a Bolívia. Que venham trabalhar pelo povo boliviano, porque somos da cultura do diálogo", disse ele em tom sereno e conciliador.

"Agora sim temos o caminho aberto, nos entendendo como bolivianos, o caminho aberto ao diálogo com vários setotes para aplicar a Constituição aprovada em janeiro pelo povo", acrescentou. De acordo com os dados obtidos pelas empresas de sondagens de opinião, pelo método de contagem rápida de alta confiabilidade, Morales obteve 63% dos votos, contra os 28% de seu principal rival, o ex-militar de direita, Manfred Reyes Villa, e 6% do empresário Samuel Doria Medina.

Sem mencionar nomes, nem mesmo dos seus adversários eleitorais, o presidente pediu aos líderes cívicos - principalmente das regiões de Santa Cruz (Leste), Beni (nordeste) e Pando (norte), palco da oposição no qual, em 2008, emergiu uma tentativa de golpe - que trabalhem longe de interesses setoriais e regionais, e pelo desenvolvimento do país andino amazônico.

"Aos cívcos destas regiões, que venham trabalhar para servir ao povo. Independentemente de quaisquer reivindicações setoriais, regionais, em primeiro lugar está a Bolívia", disse ele. "Jamais exerceremos políticas de intimidação, assédio ou regalias", prometeu, em sua mensagem à oposição interna, que manteve suas posições eleitorais nas regiões do oriente rico e dos amazônicos Beni e Pando.

A vitória incontestável nas urnas permitirá a Evo controlar, com mais de dois terços de seus componentes, a bicameral Assembleia Legislativa Plurinacional (ALP), sucessora do Congresso, que se instalará em 22 de janeiro do próximo ano, quando o presidente também será empossado para um novo mandato até 2015.

Morales firmou que o apoio popular que recebeu nas urnas aponta a necessidade de acelerar o processo de mudanças estruturais que começou na sua primeira gestão, sublinhado pela industrialização do país mais pobre da América do Sul, cujo desempenho econômico se acelerou, entre 2006 e 2008, como nunca antes em 184 anos de história.

" Temos a enorme responsabilidade com a Bolívia, mas também com a vida e a humanidade, de aprofundar e acelerar o processo de mudança", insistiu. "O fato de obter mais de dois terços (da ALP) me obriga a acelerar esse processo", completou.

Morales, 50 anos, presidente com maior apoio popular na história política deste país que é campeão de instabilidade institucional na América Latina, dedicou seu triunfo eleitoral aos países e governos que apoiaram sua enunciada "revolução democrática e cultural", em referência aos signatários da Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA) e aos governos e aos líderes da Europa e da Ásia, que sustentaram seu governo de esquerda.

"A vitória na Bolívia não é só para os bolivianos; este triunfo da população boliviana é, principalmente, um justo reconhecimento, é dedicado aos presidentes, governos, nações antiimperialistas", disse ele. Um conciliador Morales, que obteve sua sexta vitória eleitoral entre 2005 e 2009, se disse convencido de que as mudanças podem ser operadas nas urnas, longe do caminho de violência e com o apoio popular.

"O povo, com sua participação, mostra que é possível mudar a Bolívia com base no voto do povo boliviano", disse ele, ao mesmo tempo em que prestou homenagem ao espírito democrático de seus compatriotas. "Hoje, a Bolívia mais uma vez demonstra o compromisso com a democracia, uma revolução democrática, cultural à serviço do povo. Mais uma vez o povo boliviano faz história, graças à consciência do povo. O que hoje viu o povo boliviano é a forma de avançar como um projeto", disse ele.

Ele declarou ainda que, "com mais de 63% (dos votos), quase 64%, foram impostas estas mudanças na economia, no desenvolvimento estrutural e econômico". Morales reconheceu que seu plano para o país e o governo não conseguiu ancorar em Santa Cruz, Beni e Pando, mas sublinhou, em contrapartida, os ganhos eleitorais que experimentou nas eleições do domingo em outros redutos nos quais reverteu as preferências políticas, a exemplo dos departamentos de Chuquisaca ( Sudeste) e Tarija (sul), atualmente governados por fortes opositores, mas onde agora alcançou a maioria.

"Se bem não pidemos ganhar em todos os departamentos, por outro lado, avançamos, felizmente, em outros departamentos, que nunca tínhamos vencido. Isso mostra que seguimos somando neste processo", exaltou. Ele deixou claro o compromisso com ou plano de governo do Movimento Ao Socialismo. "Temos a obrigação de cumprir um programa de governo que dá muita esperança ao povo boliviano", insistiu.

O novo mapa político indica que o presidente recebeu votos de diferentes classes sociais e não só das comunidades indígenas (que representam cerca de 50% do país, mas não são unânimes em relação a Morales). "Era falso dizer que a classe média tinha me abandonado", disse.

Durante o discurso, Morales foi interrompido várias vezes pelos simpatizantes. Aos gritos de "Evo de novo", o povo erguia bandeiras do país e a whipala, símbolo das comunidades indígenas. Ao concluir a fala de 30 minutos, gritou aos presentes: "pátria ou morte", recebendo como resposta "venceremos".

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