O deputado Raul Marcelo, líder da bancada do PSOL na Assembléia Legislativa, fez um pronunciamento contra o uso da violência por parte da Polícia Militar contra a comunidade universitária da USP. Raul Marcelo, acompanhou as negociações para a retirada da PM do campus da USP. Leia abaixo o pronunciamento:
“Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, queria neste final de tarde trazer uma questão gravíssima: o que aconteceu na tarde de ontem na nossa tão grandiosa e importante Universidade de São Paulo, que está entre as maiores universidades do mundo. Em que pese todas as pressões, é uma universidade estadual. A sociedade faz uma luta enorme - estudantes, professores, movimentos sociais organizados - para que seja uma universidade pública na acepção profunda da palavra, ou seja, aquilo que é do povo, aquilo que é totalmente controlado pela sociedade.
A Universidade de São Paulo é uma construção de décadas, gerações de professores que trabalharam ali. Podemos lembrar aqui do grande professor e mestre Florestan Fernandes, alunos que por ali passaram, e está lá a nossa Universidade de São Paulo. Aqueles que têm ranço autoritário, que são contra a liberdade de pensamento, sempre a atacaram. Na ditadura civil e militar no Brasil os ditadores não pensaram duas vezes para colocar os canhões e a tropa de choque, usar da força para ocupar a nossa grande Universidade de São Paulo. E hoje, com toda essa pressão que os tucanos exercem para manter, junto com os petistas, essa hegemonia de pensamento no Brasil - ou seja, o país inteiro trabalhar para a remuneração dos títulos da dívida pública e manter essa cláusula pétrea que infelizmente se criou no Brasil de transferência de renda do Orçamento público para o setor financeiro - as nossas universidades públicas sofrem um tremendo ataque.
Vamos falar aqui da questão de São Paulo. Todo Secretário Estadual de Educação que assume não pensa duas vezes em atacar os cursos de Pedagogia da nossa Unicamp e da nossa Universidade de São Paulo. E não foi diferente com Paulo Renato, atual Secretário. É bom lembrar que ele foi reitor da Unicamp, Secretário Estadual de Educação, depois foi ao FMI fazer estágio. Assumiu o Ministério da Educação e hoje é novamente Secretário Estadual de Educação.
Quando tomou posse o que disse Paulo Renato? Que os cursos de Pedagogia da Unicamp e da USP estavam em dissonância com os novos ideais de Pedagogia. Quais sejam? Fazer com que os nossos estudantes tenham as habilidades necessárias. E quais são as habilidades necessárias? São aquelas que o Secretário aprendeu no Fundo Monetário, que é fazer com que os nossos estudantes saibam ler e escrever, não mais pensar. E os cursos de Pedagogia da Unicamp e da USP fazem com que os estudantes pensem, aprofundem debates, causam a reflexão. E isso é um perigo para quem defende esse modelo de concentração de renda no Brasil.
É nesse diapasão que o Serra montou essa Secretaria do Ensino Superior, no início com o Dr. Pinotti como Secretário, que baixou decretos para acabar com a autonomia universitária. O Governador José Serra queria fazer com que as universidades perdessem sua autonomia. Para resistir a esses decretos, os estudantes foram para a Reitoria da Universidade de São Paulo, da Unesp e da Unicamp e começaram a fazer protestos. E os decretos caíram. Não contente com isso, na tarde de ontem, o Sr. Governador José Serra, seu Secretário de Segurança Pública e a atual reitora da Universidade de São Paulo, Suely Vilela, cometeram esse crime contra o ensino superior no Brasil: voltaram a ocupar novamente o campus da Universidade de São Paulo com a tropa de choque.
Vários estudantes feridos foram parar no Hospital Universitário, professores levaram tiros de borracha e sofreram com bombas de efeito moral. Tudo porque estavam fazendo uma passeata dentro do campus para defender maiores salários e melhores condições de trabalho, para defender a moradia estudantil e que a Polícia Militar saísse de dentro do campus da Universidade de São Paulo – onde está desde o dia 1º de junho.
Uma passeata que tem esse caráter de protesto contra a permanência da Polícia Militar dentro do campus não deve ser acompanhada pela Polícia Militar. É claro que os manifestantes iriam xingar, gritar palavras de ordem contra a presença da Polícia Militar. Então começou esse processo: os policiais que ali estavam chamaram reforço e aconteceu tudo aquilo que o Brasil inteiro, inclusive a comunidade acadêmica internacional, viu na noite de ontem pelas TVs e hoje pelos jornais e rádios. Esse é o quadro.
Nesse sentido, Sr. Presidente, estamos convocando, através de um requerimento, o atual Secretário de Segurança Pública para que venha a esta Casa prestar esclarecimentos, e a atual reitora da USP, que não estava na universidade - porque eu fui para lá ontem às 5 horas da tarde, saí de lá às 11:30 da noite e a reitora não estava. Conversamos com Franco Lajolo, o vice-reitor, mas ele ficou o tempo todo dentro da Reitoria, não saiu nem para dialogar enquanto os policiais estavam ali jogando bombas de efeito moral em cima dos estudantes e professores. É uma reitora que não tem mais competência e condições de continuar administrando a Universidade de São Paulo.
É nesse sentido que queremos aqui a presença do Secretário do Ensino Superior, do atual Secretário de Segurança Pública e da atual reitora da Universidade de São Paulo para que prestem esclarecimentos. A posição da nossa bancada é que a atual reitora da Universidade de São Paulo não tem mais condição de intermediar nada: não consegue mais dialogar com os funcionários, com os professores e muito menos com os estudantes, que é sua função precípua, a primeira função de um gestor de uma universidade tão importante como a USP.”
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