quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CA de Sociologia da UNB promove protesto!!! Nenhuma nudez será castigada.!

Protesto em solidariedade a aluna da Uniban reúne estudantes pelados na UnB
de Mateus Rodrigues, para o jornal Campus Online

Não é a primeira vez que os estudantes ficam nus nos corredores da faculdade. Estudantes de Biologia e Artes Cênicas já tiveram como tradição a chamada “Corrida dos Pelados”. Desta vez, entretanto, o motivo da nudez foi, no mínimo, inusitado.

A manifestação pacífica ocorrida nesta quarta-feira (11), na hora do almoço, teve como mote principal o apoio à estudante Geisy Arruda, que ganhou notoriedade na mídia nacional e internacional desde o último dia 22.

Alguns estudantes estavam plenamente despidos. Outros usavam roupas íntimas, ou pintavam os seios e nádegas com tinta guache. Havia também estudantes vestidos usualmente. “O protesto não é a favor da nudez, e sim a favor da liberdade de exibição ou não-exibição do próprio corpo”, bradou um deles ao microfone.

Nas placas, frases como: “Com decotes ou saias longas, o corpo é seu, mulher”, e “Vem pra UnB, Geisy!”. Nas vozes do grupo, gritos de guerra como “A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadoria” eram adotados por quem observava o ato.

Opiniões divididas

No caminho percorrido pela passeata, as reações eram diversas. Enquanto alguns riam e apontavam para os corpos dos jovens, outros lançavam olhares de desprezo. Muitos sacavam celulares e câmeras portáteis para registrar o momento, e gritavam mensagens de apoio ou crítica.

Luísa Oliveira, membro do Centro Acadêmico de Sociologia (Caso), é uma das organizadoras. Ela conta que divulgou o protesto pela internet, mesmo meio no qual o caso de Geisy ganhou repercussão. “É preciso envolver a massa universitária no processo”, afirma.

O professor do Instituto de Filosofia Hilan Bensisan acredita no potencial de choque do protesto. “Nós, que não temos a mídia oficial nas mãos, precisamos usar o próprio corpo como mídia”. Ele reconhece, porém, que o caso ainda não foi completamente explicado. “A gente não sabe a história da Geisy, tem muita coisa por trás. Mas nada justifica, foi um delírio coletivo”.

Já Rosemary Costa, funcionária da agência do Banco do Brasil na UnB, não aprovou a idéia. “Estou pasma, chocada! Achei apelativo, existem outras formas de protestar”.

A dona da banda de revistas do Ceubinho, Neide Queiroz, compartilha da mesma opinião. “Existem pessoas idosas e crianças no ambiente, acho inadequado. Corpos semi-nus e faixas, tudo bem. Mas a nudez explícita é ofensiva.”

A segurança do Campus recebeu orientações para não intervir. O movimento foi considerado pacífico e legítimo pelos chefes do policiamento interno. No entanto, os agentes acompanharam o percurso dos jovens, para controlar qualquer conflito ou expressão mais extremada.

Peregrinação nudista

Ao meio-dia, o grupo iniciou a concentração no Ceubinho. Cerca de vinte manifestantes chegaram e iniciaram a cerimônia, ficando em trajes sumários. Três deles estavam completamente nus, mas dois cobriam o próprio rosto.

Rapidamente os outros estudantes se reuniram, fosse para apoiar a ação ou apenas por curiosidade. Dotados de um megafone, os despidos revezavam a palavra e expressavam seu repúdio ao machismo.

“Não é um ato apenas por Geisy Arruda. É um ato contra o machismo, contra a visão machista que está impregnada em nossa sociedade, contra a privação da liberdade humana”, disse Luísa Oliveira.

A passeata seguiu pela Ala Central do ICC, e outra rodada de mensagens ao megafone foi feita no Udefinho. De lá, seguiram para a frente do Restaurante Universitário, atraindo a atenção de muitos estudantes e servidores.

Em seguida, o grupo fez o caminho de volta, passando pelo Udefinho e retornando ao Ceubinho. Passaram novamente pelo Udefinho para, enfim, chegar ao prédio da Reitoria. Às 14 horas, após 15 minutos de mensagens e protestos, o grupo adentrou o prédio, e se instalou no Gabinete do Reitor, exigindo a presença do mesmo.

O grupo queria que José Geraldo se posicionasse oficialmente a respeito do caso Uniban. Paulo César Marques, assessor do reitor, disse que José Geraldo não poderia conversar com os estudantes naquele momento, por questões de agenda, mas emitiria um comunicado com seu posicionamento o mais rápido possível.

Entenda o caso Uniban

No dia 22 de outubro, uma quinta-feira, a estudante Geisy Arruda, que cursa Turismo na Universidade Bandeirante (Uniban), foi à aula usando um vestido curto. Ao subir as escadas do prédio, foi hostilizada pelos outros estudantes. Sob vaias e xingamentos como “prostituta, vadia”, e mesmo ameças como “vamos estuprar, vamos linchar”, Geisy teve que ser escoltada por policiais para sair do local, coberta por um jaleco branco.

O vídeo foi parar na internet, e rapidamente ganhou enorme repercussão. Em redes sociais como Orkut e Twitter, o assunto foi um dos mais comentados daquela semana, e a faculdade ganhou apelidos como UniTalibã, Unibando e Unibambis.

No dia 6 de novembro, o Conselho Universitário da Uniban, localizada em São Bernardo do Campo (SP), decidiu pela expulsão da aluna. No mesmo instante, a polêmica ganhou mais força, e o repúdio à faculdade se tornou cada vez mais intenso. O Ministério da Educação (MEC) chegou a se pronunciar sobre o assunto, pedindo explicações à Universidade.

No entanto, no dia 9, três dias após a expulsão, o próprio reitor da Uniban, Heitor Pinto, suspendeu a expulsão da aluna. O MEC arquivou o pedido de explicações, mas a imprensa e a sociedade civil ainda não esqueceram o caso. Geyse continua sendo chamada para recorrentes entrevistas. Ela diz ter recebido convites para posar nua e participar de reality shows.

No dia 26 deste mês, é celebrado o Dia Internacional da Não-Violência contra as Mulheres. Outros atos estão sendo programados para o mês de novembro. Segundo o professor Hilan Bensusan, “não adianta atacar apenas o sintoma, é preciso discutir as causas profundas da situação”.

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