domingo, 5 de abril de 2009

A política estadunidense de combate às imigrações


Ouça! (5’37’’ / 1,28 Mb) - Os Estados Unidos (EUA) anunciaram, recentemente, que pretendem usar veneno para combater a entrada de imigrantes vindos do México no país. Segundo as autoridades estadunidenses, o plano é usar um herbicida de nome Imazapyr para impedir que a vegetação fronteiriça cresça. Isso tornaria mais fácil a identificação dos imigrantes ilegais que tentam ultrapassar a fronteira.

A medida ainda não foi adotada porque autoridades mexicanas manifestaram preocupação com a contaminação dos rios que abastecem a população local.

Em entrevista à Radioagência NP, o engenheiro agrônomo do Núcleo de Economia Alternativa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Sebastião Pinheiro, fala sobre a política estadunidense de combate aos imigrantes ilegais e os diversos problemas que o Imazapyr pode a saúde humana.

Radioagência NP: Sebastião, o Imazapyr pode ser considerado um agrotóxico?

Sebastião Pinheiro: É um agrotóxico, é um herbicida de uso civil ou militar. Nesse caso terá um uso militar, isso porque será utilizado na fronteira sem a permissão do outro país visinho. A Colômbia responde um processo na Organização dos Estados Americanos (OEA), onde é acusada, pelo Equador, de utilizar o mesmo herbicida sobre a fronteira. Ali não é para impedir o avanço de populações humanas, mas para impedir o cultivo de narcóticos na Colômbia. O problema é mantido em sigilo. Agora você vê essa situação similar de uso deste herbicida, Imazapyr, na fronteira para fazer com que as pessoas fiquem mais visíveis e possam ser identificadas pelos satélites e sensores, e assim barateando o custo da caçada.

RNP: E quais as conseqüências que isso pode trazer?

SP: Toda a aplicação que é feita em um espaço vai trazer uma deriva. Esse é o termo utilizado para quando você aplica um veneno sobre um alvo que se move. Esse veneno pelo vento ou insolação, invade outro território, seja americano ou mexicano. E o que me deixa mais estupefado é que a notícia é plantada para ser tratada como se isso fosse normal. Nós deveríamos nos perguntar quem foi o doente que pensou uma coisa dessas.

RNP: Se isso ocorrer, o que pode acontecer com o rio que corta a fronteira dos dois paises e com as demais fontes de água na região?

SP: Quando se aplica um veneno é provocado um impacto sanitário-ambiental sobre esta massa de água. Esta massa de água, que no caso é o rio Bravo [lado EUA] – Rio Grande [lado México] - vai se contaminar. Todo herbicida é uma molécula química que inibe o metabolismo de seres vivos. Obviamente serão os vegetais os mais impactados. Agora, quem depura, fazem fotossíntese e purificam a água de um rio são as algas. Com esse herbicida na água, você inibe a purificação. Ou seja, a água vai apodrecer. Quem toma essa água? As populações ribeirinhas e cidades abastecidas pelo rio. Isso é extremamente perigoso, e é por isso que antigamente falavam no FDA – Food and Drug Administration [Departamento de Administração de Comida e Drogas – responsável pela análise da liberação de alimentos e drogas que iam ser usados na agricultura ou para consumo humano]. Hoje você não ouve falar mais nisso. Do governo [Ronald] Reagan [década de 80], para frente, esse departamento passou a ser dominado pelas indústrias, assim como hoje no Brasil, que o Ministério do Meio Ambiente foi dominado pelas indústrias.

RNP: Você falou que conhece um pouco sobre como funciona o transporte de pessoas através desta fronteira. Fale um pouco sobre isso.

SP: Esse mundo de transporte de pessoas através das fronteiras é um negócio bilionário. Cada pessoa que quer entrar nos EUA [de forma ilegal] paga até US$20 mil para um traficante de pessoas. Os americanos estão preocupados porque eles gastam uma fortuna [no combate à prática] e contratam mexicanos nativos que têm como função impedir a entrada pela fronteira. Não há coisa pior do que cair nas mãos da Migra [Instituto de Migrações]. As quadrilhas de mercenários da Migra são treinadas para serem genocidas. Há relatos de estupros de crianças e mulheres, além do assassinato de pessoas. Tudo agora tem um novo aliado chamado Imazapyr. O problema é à entrada de imigrantes analfabetos, porque os que têm mestrado ou doutorado são simplesmente capturados no México ou em outros lugares e levados para lá, para trabalhar quase como escravos.

De São Paulo, da Radioagência NP, Juliano Domingues.

27/03/09

Um comentário:

AF Sturt Silva disse...
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