Há quarenta anos, em 28 de março de 1968, era assassinado pela ditadura militar o estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto. O jovem, de apenas 17 anos, foi morto com um tiro no peito quando participava de uma simples manifestação pela reabertura do restaurante universitário “O Calabouço”, no centro do Rio de Janeiro. Revoltados, os estudantes ocuparam a Assembléia Legislativa para velar o corpo e, no dia seguinte, realizaram, em conjunto com diversos setores sociais, um gigantesco protesto durante o enterro. Mais de 50 mil pessoas participaram do cortejo fúnebre, à época só comparável aos de Getúlio Vargas e Carmem Miranda.
O assassinato de Edson Luís fez explodir pela primeira vez desde 1964 manifestações abertas de repúdio à ditadura. As principais cidades do país foram tomadas por passeatas contra a violência e a falta de democracia do regime militar. Porém, a morte do estudante foi só a fagulha que fez explodir o descontentamento social.
1968 representou no Brasil o auge do descontentamento social com a ditadura. A recessão econômica e o autoritarismo colocaram parte importante da sociedade na oposição ao governo militar. Os estudantes, através de suas entidades de base e da União Nacional dos Estudantes, representaram o setor de maior resistência ao regime. De forma surpreendente, a partir de março, multidões de jovens tomaram as ruas das principais cidades com a palavra de ordem “abaixo a ditadura!”. As maiores mobilizações ocorreram em junho, quando foi organizada a Marcha dos 100 mil no Rio de Janeiro e passeatas da mesma proporção ocorreram nas principais capitais do país.
A partir daí, a ditadura partiu para uma escalada repressiva que iria culminar no decreto do AI-5, em dezembro. No período seguinte, a violência praticada pelo regime impossibilitou a existência do movimento estudantil e social. Nos anos seguintes, muitos daqueles jovens que protagonizaram nas ruas a resistência à ditadura acabaram assassinados nos porões da repressão. Entre eles, o estudante de geologia da USP Alexandre Vannucchi Leme – que hoje dá nome ao DCE da Universidade de São Paulo. Há 35 anos, Vannucchi era assassinado sob tortura nos porões do DOI-Codi paulista. Militante da ALN, foi preso pelos órgãos de repressão em 16 de março de 1973. Vinte e quatro horas depois estava morto. Se tivesse sobrevivido, completaria 58 anos em outubro. São perdas inestimáveis para o futuro do país.
Apesar de derrotado em seu objetivo de, naquele momento, derrubar a ditadura, o movimento estudantil de 68 também obteve importantes vitórias. Concretamente, a universidade pública continuou existindo em nosso país e muitas de suas reivindicações acabaram conquistadas nas décadas seguintes.
Na realidade, os desdobramentos daquele período estão em andamento até os dias de hoje. O movimento feminista dos anos 60 ainda não concretizou todas as suas aspirações. O mesmo podemos dizer do movimento negro ou por direitos civis. Mas é certo que naquele período foram realizadas rupturas com várias formas de autoritarismo.
1968 é um marco na luta por liberdades em todo o mundo. A ofensiva do Tet no Vietnã; as revoltas estudantis na França; a primavera de Praga na antiga Tchecoslováquia; o movimento por direitos civis nos Estados Unidos são apenas os episódios mais conhecidos. O mito criado por 68 está no fato de que, em apenas um ano, vários movimentos de massa, particularmente de juventude, tomaram de assalto vários países. Não há dúvidas de que o mundo, após atravessar 1968, não seria mais o mesmo.
É fundamental lembrar nossos heróis que lutaram e tombaram defendendo a democracia e possibilidade de construção de um país justo e solidário. Que eles sigam sendo exemplos para nós, além de fontes diárias de inspiração e coragem.
IVAN VALENTE - deputado federal PSOL-SP
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