sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

É hora de mudar o modelo econômico


A crise financeira e econômica engendrada pelo capitalismo neoliberal globalizado ainda vai provocar muito estrago em boa parte do mundo. O caos sistêmico derrubou desde especuladores de setores embalados na onda das imobiliárias, as aventuras dos negócios on-line, até mercados tradicionais das classes médias, como a indústria automobilística. O resultado é um aumento brutal do desemprego em inúmeros países e, na sequência, retrocesso dos direitos sociais, elevação da inadimplência, quebradeira dos pequenos e degradação das condições de vida.

Tudo indica que o Brasil seguirá o rastro de destruição que vai dos Estados Unidos e dos países ricos até os mais pobres da América Latina. Não há como escapar dos efeitos gerais no modelo de dependência econômica imposto ao povo brasileiro – apesar das projeções otimistas das autoridades governamentais e de seus apoiadores incondicionais. Seria mesmo extraordinário que o Brasil conseguisse contrariar a lógica dominante na economia mundial, onde o encolhimento dos patrimônios e a retração dos negócios marcam a cena.

Mesmo que a crise se apresente mais suave aqui do que em qualquer outro lugar, a gravidade da situação é mais do que suficiente para motivar reflexões e atitudes na direção de outro modelo econômico para o país e para o mundo. Se não temos a menor condição de influenciar os destinos do mundo, devemos pelo menos pensar em nosso País – em uma alternativa que nos livre para sempre desse modelo neoliberal implantado nos anos 90, na sequência de outros modelos geradores de dependência, desigualdade e exclusão, responsáveis diretos pela perpetuação da exploração do trabalho e da pobreza.

É preciso levar em conta que a crise atinge de forma desigual os povos do mundo. O aumento do desemprego, nos Estados Unidos, pode chegar – no agravamento da crise – a 10% da população economicamente ativa. Aqui já temos desemprego acima dos 15% (Seade-Dieese) antes da crise, há mais de 10 anos seguidos, além de uma massa enorme de trabalhadores na informalidade, no subemprego e sem a menor oportunidade de ingresso no mercado de trabalho, especialmente a juventude. Na Europa o desemprego tem a proteção do Estado por longo período, aqui apenas por alguns meses de salário de fome do desemprego.

Agora, a lógica e o bom senso pedem a mudança do modelo. É preciso apostar na possibilidade de uma luta direta contra a exploração, na capacidade de conscientização e mobilização dos trabalhadores e na articulação de propostas que substituam e superem os pilares de sustentação do atual modelo. É preciso desmontar a supremacia do capital financeiro sobre a produção, é preciso coletivizar o trabalho de tal maneira que todos tenham assegurado uma vida digna, é preciso potencializar os recursos naturais, o conhecimento e a tecnologia para o desenvolvimento soberano do Brasil – com igualdade econômica e justiça social, liberdade e democracia. É preciso que a distribuição da renda e da riqueza garanta a existência de uma sociedade sem privilégios e sem exclusões.

A mudança de modelo significa aposentar o que fracassou e construir um novo sistema capaz de enfrentar e resolver os problemas seculares do povo brasileiro. O desmoronamento do neoliberalismo criou uma chance única e imediata de avanço da sociedade para o projeto de democracia popular, que proporcione à grande maioria dos brasileiros uma real melhoria das condições de vida, com a garantia dos direitos fundamentais do ser humano. Chegou a hora de apostarmos em outro futuro para o Brasil – imune às crises geradas pelo capitalismo.

Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor da PUC-SP.

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