terça-feira, 10 de junho de 2008

Ambientalistas atacam Porto Brasil e esperam apoio da Funai

Porto Gente

Bruno Rios
reportagem


No início da semana em que o mundo celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), ambientalistas da Baixada Santista reuniram-se para discutir o polêmico Porto Brasil, empreendimento que a empresa LLX pretende construir em Peruíbe com investimentos estimados em pouco mais de R$ 4 bilhões. E a discussão não foi branda, muito pelo contrário. No final, ficou a certeza de que a batalha dos que defendem a não-construção do Porto Brasil será longa, mas pode receber um aliado importantíssimo e fundamental nesta semana.

Trata-se da Fundação Nacional do Índio (Funai), que por meio de seu presidente, Márcio Augusto Freitas de Meira, deve entregar nos próximos dias ao ministro da Justiça, Tarso Genro, um parecer favorável à homologação de território indígena para a área escolhida para a implantação do futuro porto. O documento tornaria aquele específico pedaço de terra da Estância Santa Cruz impossível de ser comprado, violado e utilizado para fins comerciais, como pretende o empresário Eike Batista.

Investimento superior a R$ 4 bilhões está previsto para área pacata, só acostumada a grandes movimentações durante feriados e final de ano

“A região em que querem fazer o Porto de Peruíbe é muito sensível e não pode ser usada para tal fim, sendo que o complexo de Santos está ao lado e precisando de investimentos em infra-estrutura e com áreas de expansão. Tem que se respeitar a diversidade cultural da Baixada Santista. Será que ninguém olha isso? Com mais empresas e um porto no meio do que hoje é Mata Atlântica, as perspectivas são as piores possíveis”, resumiu o técnico em meio ambiente e especialista em poluição química, Jeffer Castelo Branco.

Outro presente ao debate sobre o Porto Brasil foi o ambientalista Plínio Melo, da organização não-governamental Mongue e antigo crítico do projeto de Eike Batista para a pacata cidade do Litoral Sul de São Paulo. Ele tocou nos pontos mais polêmicos da história, como a negociação direta entre os índios da Aldeia Piaçagüera, que ocupam a área do porto, e diretores da LLX, que teriam chegado a oferecer aos nativos cinco salários mínimos por mês durante um ano, condicionada a saída da terra para uma fazenda de Itanhaém, pertencente ao ex-prefeito de Peruíbe, Gilson Bargieri.

“Várias pessoas na platéia não sabiam desse detalhe sórdido, sempre é bom refrescar a memória de todos. Eu estou sofrendo um processo porque procuro os meios de comunicação para criticar tudo o que está, em meu ponto vista, acontecendo de forma errada. O Porto Brasil é um projeto absurdo que só vai servir e já está servindo para despertar a cobiça na cabeça das pessoas. Ainda por cima, já ouvimos nas conversas de canto que a Prefeitura de Peruíbe vai mexer no Plano Diretor da Cidade para permitir, legalmente, a construção do Porto Brasil. Sou contra isso e lutarei até o fim. Tomara que a terra seja homologada logo”.

O evento também contou com a presença do deputado estadual Raul Marcelo (PSOL), que posicionou-se contra a construção do Porto Brasil sem o debate de idéias e a participação dos ambientalistas no processo. Ao público presente, ele reclamou da pouca transparência da LLX no assunto. Em sua opinião, “é preciso garantir o meio ambiente e uma política de desenvolvimento sustentável, que tanta gente fala, mas poucos conseguem tirar do papel”.

Bruno Pinheiro, da ONG Eco Surfi, citou os problemas ambientais sofridos por outra empresa de Eike Batista, a MMX, no Norte do Brasil. PortoGente abordou o tema em uma entrevista exclusiva publicada recentemente com o ambientalista paraense e diretor do instituto de defesa do meio ambiente Peabiru, João Meirelles, citado por Bruno durante o debate. Ele fez comparações e reclamou da posição da empresa. “O que sofremos aqui eles sofrem no Norte. Alguma coisa está errada, precisamos defender os índios e a Mata Atlântica”.

Na próxima atualização do PortoGente, sexta-feira (6), publicaremos uma entrevista exclusiva com o deputado estadual Raul Marcelo (PSOL) a respeito do Porto Brasil e de outros problemas ambientais que permeiam as obras ligadas à geração de energia em São Paulo. “Pouca gente fala que o Porto Brasil fica ao lado do Porto de Santos e pode acabar com ele”. Não deixe de conferir.

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