Senhor Presidente,
O senhor terá notado que sua visita de hoje, 28 de maio de 2008, não recebeu as boas-vindas daquela de 2006 quando, acompanhado da “seleção”, enlouquecia a meio mundo, tratando de fazer-nos crêr que a lua é um queijo.
É que, na realidade, as máscaras caíram. Primeiro, pelo rotundo fracasso da MINUSTAH com respeito aos objetivos do próprio Conselho de Segurança da ONU em maio de 2004. Em seguida, porque já mais ninguém crê na “desinteresada ajuda” dessa missão. Nós entendemos de imediato os “subjacentes” desta “benevolência”. A vinda do filho do vice-presidente Alencar, proprietário da indústria têxtil mais importante do Brasil, a localizar as zonas francas e verificar com seus próprios olhos nossa famosa “mão de obra mais barata”, acabou de abrir-nos os olhos. Hoje, estão igualmente de visita uns capitalistas, seguramente ávidos eles também de apostar neste “ouro vivo”: vão se precisando os objetivos.
Mas há mais. O povo inteiro experimentou o comportamiento tanto dos altos responsáveis da missão, cobrando uma dinheirada - neste país tão desprovisto de tudo -, como o dos militares: a repressão nos bairros populares já não se demonstra, ao igual que a arrogância dos chefes em comando, ou a atitude dos soldados encaramujados em seus tanques, metralhadoras sempre apontadas à nossa frente, os quais, aproveitando-se da situação de dominação que instalam, cometem violações e outras exações que não têm nome… ou o terror semeado durante os últimos acontecimientos. O fundo e a forma já não deixam pois nenhuma dúvida: obviamente se trata de uma tutela armada, de uma ocupação, que a suposta “ajuda sul-sul” (que não é mais que uma solidaridade entre classes dominantes de país a país sob direção dos rapaces multinacionais) já não consegue enganar mais.
Como tudo isto foi tão longe? Como a revolução mais extraordinária do continente pôde dar à luz a tal profunda humilhação? Como governos resultantes das lutas dos trabalhadores e das mobilizações populares puderam chegar a jogar conscientemente o papel tão degradante de executor dos planos imperialistas? Tratamos de explicar-se-lo no texto adjunto “Todas as roupagens da mentira”, que diz, expõe a lógica de tal sentença, e os reais objetivos do projeto imperialista-burgués de exploração ilimitada. E o papel que ali lhe toca ao senhor. Rechaçando sua “ajuda” tal como a concebe e repudiando totalmente a presença de suas tropas armadas, termina preconizando que outra cooperação é possível “…que unificaría todos os operários, todos os trabalhadores e todos os povos, natural e fundamentalmente irmãos; na agricultura, na medicina, na construção de suas cidades, nos risos francos, nas danças e cantos então liberados, na produção coletiva e nos intercâmbios iguais.”.
Assim, senhor presidente, considerando que a presença das forças de ocupação da ONU no Haití constituem uma gigantesca bofetada no povo haitiano e em nossos ancestrais que lutaram para deixar-nos um território liberado de toda dominação extrangeira: em nome desta luta contra a dominação, em nome do direito à autodeterminação do povo haitiano, em nome do direito à vida de toda a gente caída sob as balas criminosas dos seus soldados nos bairros populares, mas também com o mesmo sentimento que o ajudou a declarar não grata a quarta frota estadunidense nos portos do seu país; e considerando a necessidade de establecer uma cooperação horizontal entre os povos do sul onde não existiria explotação, lhe requeremos, Sr. Presidente, proceder de imediato a retirada de suas tropas armadas de nosso país.
Yannick ETIENNE - Batay Ouvriye [Batalha Operária]
Camille CHALMERS - Plateforme Haïtienne pour un Droit Alternatif [Plataforma Haitiana por um Direito Alternativo]
Marc-Arthur FILS-AIMÉ - Institut Culturel Karl Lévêque [Instituto Cultural Karl Lévêque]
Guy NUMA - Mouvman Demokratik Popilè [Movimento Democrático Popular]
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