"Colocado nesse transe histórico, pagarei com a vida a lealdade do povo, e digo-lhes que tenho certeza que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos não poderá ser apagada definitivamente."
As proféticas palavras acima são do ex-presidente chileno Salvador Allende, transmitidas por uma rádio, um pouco antes do líder socialista morrer em defesa do que acreditava. A semente continua germinando. Salvador Allende foi o primeiro marxista assumido eleito democraticamente presidente da República na América Latina. Médico de formação, deixou de lado o ofício para dedicar-se somente a política.
Em 1933, colaborou com a fundação do Partido Socialista Chileno. Iniciou a carreira política como deputado em 1937 e ocupou o Ministério da Saúde de 1939 a 1942. Foi senador em 1952, no mesmo ano em que concorreu pela primeira vez à Presidência da República. Em 1964 é novamente derrotado. É somente em 1970 que, disputando como candidato da coalizão de esquerda Unidade Popular (UP), é eleito presidente da República do Chile, com 36,2% dos votos. Em 1972, recebeu o Prêmio Lênin da Paz.
Salvador Allende representou um tipo particular de revolucionário: depositava suas esperanças nas urnas, acreditava na possibilidade de instaurar o socialismo de maneira democrática e sem derrubar o sistema político vigente.
Sua política, que ficou conhecida como "via chilena para o socialismo", tinha como objetivo realizar uma transição pacífica para uma sociedade mais justa e igualitária – modelo que se opunha ao vivido em Cuba, onde a revolução se deu através da luta armada.
Allende tentou socializar a economia chilena, com base num projeto de reforma agrária e nacionalização de indústrias estratégicas. Transferiu para o controle do governo os bancos, as minas de cobre e algumas grandes empresas. Teve que enfrentar a forte oposição dos democrata-cristãos de direita, a falta de união da esquerda radical, e a antipatia do efetivo militar chileno, além das pressões políticas norte-americanas, que acabaram aprofundando sensivelmente os problemas da frágil economia chilena.
Em 11 de setembro de 1973, com ostensivo apoio dos Estados Unidos, as Forças Armadas, chefiadas pelo general Augusto Pinochet, deram um sangrento golpe de Estado que derrubou o governo da UP. Allende morreu quando as forças armadas rebeladas contra o governo constitucional atacaram o Palácio de La Moneda. Há duas versões sobre a morte do estadista: a primeira é que ele se suicida no Palácio, cercado por tropas do exército, com a arma que lhe fora dada por Fidel Castro; a outra é que foi assassinado pelas tropas invasoras. Salvador Allende teve um funeral com honras militares em 1990.
Confira aqui o último discurso do líder chileno. A transmissão foi realizada pela Rádio Magallanes, às nove horas e dez minutos da manhã do dia do golpe. A gravação tem como pano de fundo os ruídos dos bombardeios, a correria e os gritos na trincheira de resistência do Palácio de La Moneda. A voz de Allende, no entanto, é serena e firme, quase atemporal. O presidente tinha consciência de que suas palavras ecoariam na posteridade.
Um relatório oficial concluiu que 3.197 pessoas foram assassinadas por razões políticas durante a ditadura de Pinochet, que durou de 1973 a 1989. Mais de dez mil pessoas foram presas, torturadas e exiladas no período ditatorial.
Para mais informações, visite o site www.cetenarioallende.org
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