sexta-feira, 11 de abril de 2008

Estatização de siderúrgica é irreversível, diz Venezuela

Folha de São Paulo
Na primeira reunião do governo venezuelano com sindicalistas após o anúncio da nacionalização da siderúrgica Sidor, de controle acionário argentino e participação minoritária da brasileira Usiminas, o ministro de Indústrias Básicas e Mineração, Rodolfo Sanz, assegurou ontem que a decisão é irreversível e ainda ameaçou desapropriar a empresa caso não haja acordo.
"Venho executar uma ordem do presidente [Hugo Chávez] de assumir o controle da usina. Chávez não voltará atrás dessa decisão", comprometeu-se Sanz diante de 20 membros do Sutiss (sindicato único dos trabalhadores da Sidor), numa sala adornada com um pôster do Che Guevara e um retrato de Simón Bolívar.
"Se eles se põem numa situação delicada, em 24 horas aprovamos a declaração de utilidade pública e em outras 24 horas se estabelece a desapropriação e ocupamos militarmente esta coisa", disse Sanz, após ouvir denúncias de que a empresa está enviando informações sigilosas à Argentina.
"Vamos tirá-los daqui e, se alguns venezuelanos quiserem ir com eles e começarem a sabotar também, os tiraremos daqui a porrada também", completou o ministro, arrancando aplausos. A Folha foi o único veículo privado a assistir ao encontro, restrito à imprensa estatal.
No encontro, Sanz admitiu que a nacionalização terá um impacto negativo fora do país e cobrou apoio dos sindicalistas. "Para Chávez, é um problema político internacional, é uma radicalização do processo", afirmou. "O presidente deu espaço, e eu peço que deixem de lado as diferenças políticas, pois é um problema do país. Temos de dançar colados."
No final do encontro, o ministro anunciou uma série de medidas de curto prazo, como o reforço da fiscalização do que sai da siderúrgica. Por outro lado, pediu aos trabalhadores que não parem de trabalhar.
Ele advertiu que a Sidor não poderá ser administrada "como a PDVSA, que, como vende tanto, se mantém -porque, por mais que a roubam e a ferrem, a empresa é rentável porque o petróleo está caro".
Já o presidente do Sutiss, José "Acarigua" Rodríguez, cobrou uma decisão rápida sobre o aumento salarial, cujo impasse de 15 meses nas negociações com a direção argentina foi o motivo alegado por Chávez para promover a nacionalização.
"O contrato coletivo tem de ser imediato. Já começou a pressão dos nossos companheiros", disse. Sanz prometeu uma solução rápida.
Em entrevista à Folha logo após a reunião, Sanz disse que a medida "não tem ligação" com a entrada da Venezuela no Mercosul, que ainda depende de aprovação nos Parlamentos brasileiro e paraguaio.
Privatizada em 1997 -dois anos antes de Chávez assumir- por US$ 1,2 bilhão, a Sidor é administrada pela holding Ternium, que tem participação de 60%. A holding é controlada pela argentina Techint e tem participação de 14,25% da Usiminas. O restante das ações da Sidor é do Estado e dos funcionários (20% cada).

FABIANO MAISONNAVE, ENVIADO ESPECIAL A CIUDAD GUAYANA

Nenhum comentário: