quarta-feira, 23 de abril de 2008

Vitória histórica da esquerda no Paraguai

PSOL

Fernando Lugo, ex-bispo católico, foi eleito neste domingo (20) o presidente do Paraguai, rompendo com mais de seis décadas de domínio do Partido Colorado no país. Às 21h40 (22h40 de Brasília), com mais de 90% dos votos apurados, o TSJE (Tribunal Superior de Justiça Eleitoral) anunciou oficialmente a vitória de Lugo, que já contabilizava 40,83% dos votos. A candidata colorada Blanca Ovelar ficou em segundo lugar, com 30,72%.

Durante todo o dia aconteceram dois fatos contraditórios. De um lado o partido colorado ganhava em carros, na proporção de 15 para 1, sobre Aliança para a Mudança, de Lugo, trazendo gente para os locais de votação. Sem dúvida, nas escolas onde se realizava a votação, já se via que a Aliança contava com um grande número de observadores, cidadãos que espontaneamente fiscalizavam as urnas. Um chamado movimento "transparência" tinha uma grande quantidade de jovens, com camisetas brancas em todas as escolas. Isso e a alegria de votar num belo dia ensolarado, com filas repletas de cidadãos apontavam para um clima de mudança. Silenciosamente, o povo falava em terminar com os 61 anos de governo do Partido Colorado.

Acompanhamos a eleição como observadores internacionais junto com o camarada João Alfredo do Ceará e o professor e advogado Pinaude, que com seus 77 anos esteve na jornada que começou às quatro da manhã, quando mais de cem observadores internacionais devidamente credenciados ante a justiça eleitoral. Ingressamos nos veículos disponibilizados pelo Tekojoja para observar o processo eleitoral.

Estivemos durante horas no comitê de Tekojoja, onde pudemos acompanhar a grande mobilização, especialmente de mulheres que passaram a noite para organizar a atividade do domingo.

Vimos tambem a recepção emotiva e espontânea que Lugo brindou a Hebe de Bonafini, quando chegou no sábado ao aeroporto. Este processo que se expande pelo continente, aqui no Paraguai tem duas vertentes, dois sentimentos. Um é o da luta democrática para terminar com o regime de 61 anos de governo do Partido Colorado, um partido que desde então controla o aparelho de estado, ao estilo priista e que chegou ao seu esgotamento. O outro sentimento é o da recuperação dos recursos naturais, que no caso do Paraguai se concretiza nas duas grandes represas de água: a que compartilha com o Brasil, Itaipu, a maior do continente; e Yaciretá, com a Argentina. Lugo encabeça uma luta por revisar o tratado de venda de energia com o Brasil - que paga um preço irrisório. Não por coincidência a capa do jornal ABC color deste domingo tem duas manchetes: "O Brasil explora Paraguai em Itaipu" e uma charge que mostra Lugo vencendo uma maratona. Esta reivindicação não somente se faz presente na classe médias, mas parece que pode ser apoiada por um setor da burguesia, representada pelo Partido Liberal - que também critica a perpetuação dos produtores de soja brasileiros em terras paraguaias.

Este triunfo histórico significa um novo alento no processo latinoamericano. Ao índio boliviano, ao militar rebelde na Venezuela soma-se agora o governo do Bispo de San Pedro, zona em que o movimento camponês deixou muitos mártires na sua luta pela reforma agrária. Um sacerdote formado pela teologia da libertação e no contato com este campesinato.

Estamos compartilhando este triunfo com mais de cem militantes vindos do Uruguai, com Frei Betto, Arbex Jr., militantes do Jubileu 2000 do Brasil, dos sem-terra do MST, e de outros setores de esquerda como Bernard Casse e Hebe Bonafini.

Um triunfo que é um novo desafio e uma nova alavanca também para o PSOL, que desde o primeiro momento esteve apoiando Lugo e se fez presente no Paraguai porque entende que a luta latinoamericana é também nossa luta.

Pedro Fuentes - Secretário de Relações Internacionais do PSOL

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